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28.8.07

Caindo do pódio



Um dos motivos de orgulho nacional, o coeficiente de Gini brasileiro tem estado entre os mais altos do mundo desde que se começou a medir essas coisas. Durante alguns anos, chegou a ser O mais alto do mundo. Esse coeficiente, que mede a desigualdade econômica numa sociedade, como qualquer estatística social ou econômica, é mais complicado e menos representativo do que parece, o que já diminuiria o brilho da desigualdade brasileira: isso porque pode ser aplicado a medidas diferentes (na Ásia, geralmente ao consumo, na América Latina e entre os países ricos, à renda - a medida pelo consumo gera um número até 25% menor), e depende de qualquer jeito em se ter estatísticas confiáveis de renda, consumo, riqueza mobiliária ou o que seja, o que nem nas economias mais mensuradas é tão simples assim. Estima-se que nos EUA a contribuição da economia cinza e negra passe de 10% do PIB, enquanto na América Latina o dado é muito maior, na África maior ainda, e nos chamados "estados fracassados" como o Congo, Colômbia ou Afeganistão, a economia alternativa é aquela controlada pelo governo.

Bem, isso tudo dito, a questão é a seguinte: com a redução contínua ao longo da década, e acelerada (e pela primeira vez combinada com crescimento econômico) nos últimos anos, os pobres brasileiros, com crescimento na renda de 10% ao ano nos últimos quatro, mostraram que o pessoal do Cansei tem razão e o problema desse país é seu povo, e tiraram do Brasil o troféu. A China é hoje mais desigual que nós, e os outros dois BRIC podem passar o Brasil na próxima década.

Mais uma vez o Brasil se curva diante do mundo.

Quem tá tentando manter a honrosa tradição brasileira, no entanto, é o Mato Grosso, e a fronteira agrícola (aka Arco do Desmatamento) em geral, onde a concentração fundiária tem crescido. Segundo o Valor,

Nos últimos três anos, os mega-produtores do Estado avançaram sobre 1,3 milhão de hectares de terras produtivas, segundo analistas do mercado financeiro e de agentes locais ouvidos pelo Valor. Nas próximas safras, outros 1 milhão de hectares em mãos de médios produtores podem mudar de donos.

A elevação nos custos de captação do dinheiro, o atraso na entrega de insumos e a redução do volume de crédito levaram cerca de 500 grandes e médios produtores de Mato Grosso a sair da atividade. O agravamento das dificuldades na gestão das propriedades transferiu pelo menos 600 mil hectares a outros produtores. Em Primavera do Leste, no sul do Estado, apenas seis produtores detêm metade dos 320 mil hectares de lavouras. "Em dez anos, Mato Grosso vai estar nas mãos de 15 ou 20 mega-produtores", prevê o produtor José Nardes, presidente do sindicato rural do município, que arrendou 6 mil de seus 7,5 mil hectares a outros colegas.



Uma das razões pra isso ser tão fácil: o ITR brasileiro é relativamente baixo, e não é progressivo.

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Falando nisso, a proposta brasileira pra copa do mundo inclui hotéis flutuantes em Santos. Sinceramente, é idéia de quem nunca viu aquele porto. As empresas que lá operam choram e rangem os dentes quando um navio, especialmente um transatlântico, que tem prioridade, fica mais do que algumas horas ocupando um berço (isso é, uma vaga) no cais, com direito a brigas na Justiça pra atracar ou desatracar navios. Imagina o que iam dizer à idéia de que o berço na frente deles ia ficar um mês com um navio alheio estacionado?

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