A imprensa brasileira gosta muito de vaticinar que a solução que levará a esse Graal nebuloso que é o "Desenvolvimento" é o investimento na educação. A educação no sentido abstrato da coisa, ou só pra dizer que não se deve investir em outros aspectos "do social," imagino, porque a mesma imprensa não dá a menor bola pra sucessivas crises na educação. Assim, pouca gente sequer ouviu falar nos detalhes do plano pra transformar em OS as universidades federais, do corte efetivo de 85% de suas verbas de 94 a 2002, ou da remoção da responsabilidade do Estado pelas escolas técnicas.
Do mesmo jeito, no Rio de Janeiro, o casal Garotinho, que viu que não se elege mais nem pra síndico, está roubando até a prataria do Palácio Laranjeiras, e entre os maiores atingidos pelo desvio está a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ. Há algum tempo que a universidade está literalmente caindo aos pedaços - caiu uma marquise outro dia - mas na última semana, com o corte do ponto e o fechamento dos elevadores do prédio principal (de 13 andares), parece que morreu de vez.
A UERJ ainda tem, apesar da penúria, algumas das melhores escolas do Brasil, em campos tão diversos quanto direito e desenho industrial. Sua primeira encarnação como Universidade do Distrito Federal, criada em 1935, foi a segunda universidade de verdade do Brasil, depois da USP, que é um ano mais velha. (A Universidade do Rio de Janeiro, criada em 1920 pra conferir um honoris causa ao rei dos belgas, só foi virar universidade de verdade, a futura UFRJ, nos anos 50.) Infelizmente, o projeto "liberal-democrático" de Anísio Teixeira não tinha a mesma importância para o governo federal que o projeto "liberal-elitista" da USP tinha para os paulistas, que pretendiam recuperar pela universidade o status que tinham perdido pelas armas, e com o Estado Novo veio o fechamento da UDF, para só reabrir em 1950. Mesmo a segunda data ainda a torna das instituições de ensino superior mais antigas do país. Em termos de produção científica, já esteve também entre as mais importantes (hoje, apesar de ilhas de excelência, a universidade tem um papel relativamente reduzido até dentro do Rio de Janeiro, perdendo para a UFF o segundo lugar.) Curiosidade: o prédio horrível que se encontra paralisado porque o governo estadual não provê sua manutenção foi projetado pelo atual vice-governador, Luiz Paulo Conde.
Com o fim da universidade, combinado ao subsídio pesado à indústria idem, o Rio mostrou definitivamente o que pensa da tal prioridade da educação, ou da teoria do conhecimento. A vocação do estado, aos olhos de quem o dirige, é se transformar em "Manchester tropical." O fato de Manchester, como todas as outras cidades da primeira revolução industrial, querer escapar desse destino pobre, poluído e incerto - incerto porque hoje em dia se carrega fábricas de um lado pro outro do mundo baratinho, e a indústria pesada fica nas mãos de conglomerados que efetivamente o fazem. A oportunidade para o estado representada pela herança do governo federal, que foi-se embora mas, meio sem querer, deixou por aqui o grosso de suas instituições acadêmicas e culturais, foi solenemente jogada fora. E a grande mídia, que gosta tanto de falar da importância da educação, não dá ao assunto um átimo da importância que dá ao circo em que se tornou o Congresso, mesmo que nada de novo aconteça no tal picadeiro, ou à divulgação repetitiva de índices econômicos sem maiores surpresas.
3 comentários:
Sorocaba que gosta de se dizer a Manchester Brasileira... ;)
Se bem que nesse ritmo o Rio pode virar a Vladivostok brasileira.
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