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10.12.12

Minhocão, espécie de território controlado

Num post anterior, comentei sobre a demolição do tenebroso minhocão da Perimetral, no Rio, e a súbita conversão da esquerda à religião rodoviarista de Robert Moses. Mas, lamentavelmente, ao falar da cidade de "classes" sonhada pelo prefeito Eduardo Paes, esqueci de um pequeno detalhe. Ou melhor, um detalhe enorme. É que enquanto demole um viaduto rodoviário na área de expansão do centro de negócios, a prefeitura está erguendo novos ao longo de bairros mais afastados. Em contraste com obras do metrô na Zona Sul, inteiramente subterrâneas, ou com o enterramento da via expressa entre Santos Dumont e Francisco Bicalho, o BRT Transcarioca erguerá diversos viadutos, além da barreira da própria via expressa, ao longo dos bairros que ficam entre Jacarepaguá e a Penha.

E não, não se trata - como, digamos, no pedaço que sobrará da Perimetral, entre a Francisco Bicalho e a Ponte - de áreas industriais, ou, como na Barra, de amplas áreas aonde um viaduto não causa tanto problema. São áreas densas, em alguns casos de comércio intenso, que ficarão à sombra do BRT. Nesse sentido, ele é pior do que a parte praça Mauá-Francisco Bicalho da Perimetral quando originalmente construída, já que então cortava um porto em atividade. E por isso mesmo, ao contrário dos outros dois BRTs, que ligam áreas pouco adensadas e portanto têm espaço para sair barato sem prejuízo maior ao urbanismo, o BRT Transcarioca desde o começo foi questionável como projeto; a maior vantagem dele em relação a um monotrilho, por exemplo, acaba sendo a velocidade com que fica pronto, e a diferença de custo não é mais tão grande. (É a mesma lógica de Cabral preferir fazer uma segunda estação de metrô na General Osório ao invés de desapropriar os prédios necessários para estender a via a partir da estação existente.)

PS Num projeto de BRT realmente asinino, o Expresso Tiradentes em São Paulo, fez-se logo, em condições semelhantes, um viaduto em todo o percurso. (O preço, portanto, quase o de um metrô.)

Um comentário:

Patrick disse...

É doloroso mesmo esse rodoviarismo que impregna todas as cores do espectro partidário no Brasil :(