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28.6.12

Mini manual do ciclista que não é xingado

Está crescendo no Brasil a percepção das vantagens do uso da bicicleta como transporte, em boa parte por conta do ativismo de gente que insiste em andar de bicicleta mesmo em cidades que ainda não estão preparadas para isso. Mas um problema recorrente na percepção pública dessas pessoas é que elas são frequentemente vistas como hipsters, ou melhor, como playboyzinhos - já que hipster é uma palavra de playboyzinho. A percepção não está inteiramente divorciada da realidade: a maioria dos cicloativistas pertence ao quinto mais rico da população mesmo. Ainda assim, existe uma diferença entre a realidade e o estereótipo e convém, no seu ativismo, não reforçar o estereótipo. Caso contrário, é um tiro no pé da própria causa, assim como fazem aqueles alunos que ocupam reitorias e fumam maconha lá: tudo a favor tanto de fumar quanto de ocupar reitoria, mas fazendo os dois juntos só se reforça a imagem de que a ocupação foi coisa de "playboys maconheiros indolentes." Não é a república livre do Fiume e você não é o D'Annunzio, é um ato de luta e propaganda.

Do mesmo jeito, o comportamento no dia a dia de muita gente que anda por aí de bicicleta reforça a idéia da "classe média que quer mais direitos e caga e anda para o resto do mundo." Por isso, resolvi fazer este mini-manual para quem quer andar de bicicleta de um canto pro outro (eu, quando morava no Rio, até compras no supermercado fazia de bicicleta, com ajuda de uma mochila de lona).


1) Você está num veículo, previsto no código de trânsito. Comporte-se como tal. Isso é : não andar na calçada, que é local de pedestre (a não ser que você esteja em velocidades pedestres - menos de 6km/h, aquela velocidade em que já é complicado se equilibrar); quando na rua, andar no sentido do tráfego e respeitar sinais de trânsito (pode ultrapassar um pouco a faixa contínua para não ser atropelado); não andar à noite se não tiver lanterna e farolete; usar uma pista e não o meio fio, mesmo que tenha um mala resfolegando o motor atrás.

2) Use as vias apropriadas, que são, além das ciclovias, as ruas secundárias. Avenidas como a Paulista não são lugares para se andar de bicicleta, a não ser que você queira mesmo viver perigosamente. Sim elas deveriam ser acompanhadas de ciclovias no mesmo trajeto, mas enquanto não estão, desvie-se um pouco e use vias locais paralelas. E se avenidas não são apropriadas para bicicletas, muito menos o são autopistas urbanas como a 23 de Maio ou o Aterro do Flamengo. Vamos explicar assim: a 23 de Maio prevê um tráfego de até 15.000 veículos/hora/sentido. Isso dá  mais de quatro carros por segundo (4,17, pra ser exato). Você realmente quer compartilhar um espaço com quatro carros por segundo a 100 por hora?

3) À noite, além da lanterna, use roupas claras, ou arrume uma faixa refletora.

4) Bicicletas rebaixadas são cool pra caramba, cansam menos, mas não são pro trânsito.

Pronto. Rápido, né? Ah sim, e 5) Se ouvir alguém falar em Thor, não espere pra ver se é algum nerd ou fã de filmes de ação. Largue a bicicleta imediatamente e saia correndo.

2 comentários:

Biúnil disse...

Em São Paulo, na maioria das vezes é mais perigoso, longo e cansativo usar as vias secundárias, já que elas tem menos pistas, muitos aclives e menos fiscalização de trânsito.

Detalhes: http://vadebike.org/2012/08/ciclistas-av-paulista-riscos/

thuin disse...

Cansativo sempre será, em cidades com algum relevo. Por isso que tinha que ter ciclovia junto às avenidas. E o ódio do motorista paulistano à bicicleta é assustador, concordo.