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19.1.11

Give me your tired, your poor, your trained

Geralmente, eu desconfio - e muito - de discursos em que a virtude não apenas é desprovida de custos econômicos como gera vantagens econômicas, como em todo o discurso "ecoempreendedor," incluído o turismo ecológico. No mais das vezes, o que se vê é que a virtude não é tão econômica assim, ou sobrevive à custa de um prêmio pago (isto é, vira característica de luxo), ou ao contrário que a economia não é tão virtuosa assim, como quando a Natura ou a Refavela chamam de virtude pagarem uma merreca a gente miserável. A tentação de se dizer que a sua afinidade ideológica é também simples bom senso é grande, e por isso mesmo deve ser combatida. Mas aqui vai um exemplo de um caso em que eu - com ressalvas - faço exatamente esse argumento.

O Brasil, aparentemente, tem um déficit de pessoal qualificado da ordem de um milhão de vagas de emprego por ano. A resposta para isso, claro, é investir muito mais do que se investe hoje em treinamento e qualificação. Mas vamos lá: nem todas essas vagas são de empregos para os quais pode se treinar gente facilmente. Nem todas elas são em locais onde haja gente não qualificada disposta a encarar esse emprego específico.

A resposta óbvia a esse déficit, no curto prazo, é trazer gente qualificada de fora. Afinal, o Brasil tem uns 3% da população mundial, então é lógico pensar que nesses 97% haja alguém qualificado e disposto a se mudar pra cá, certo? O problema é que o mercado de trabalho brasileiro é protegido; só se pode "importar" trabalhadores após provar que não existe similar no mercado nacional, e mesmo assim é complicado. A solução proposta pelas empresas é liberar geral; o ministério do trabalho contesta que se fizermos isso vamos prejudicar os trabalhadores brasileiros.

Ora, é ridiculamente difícil imigrar no Brasil. Ironicamente, já que a classe média brasileira é em boa parte descendente de imigrantes europeus, árabes, e japoneses trazidos para "melhorar a raça," e que têm um orgulho quase racial das suas raízes imigrantes. As leis de imigração, derivadas do nativismo getulista e da paranóia militar, fazem com que seja difícil se naturalizar brasileiro mesmo se você tiver pais brasileiros e tiver morado boa parte da vida aqui.

Se facilitarmos a imigração propriamente dita após um período de residência, e alterarmos as regras de trabalho para que as dificuldades fossem suspensas em caso de compromisso de residência de longo prazo, parte (difícil de calcular) dos estrangeiros que se encaixam no problema acima descrito poderia se transformar em brasileiro. Assim, agregaríamos - de graça - uma massa importante de brasileiros qualificados. É o que fazem os países ricos, estimulando o brain drain de boa parte do terceiro mundo.

Claro que no meu mundo ideal, as regras de imigração seriam bem mais fáceis ainda ("quer ser brasileiro? Não tem ficha corrida (por crime que seria considerado crime no Brasil) no país de origem? Valeu."), bem como as de asilo, mas isso já seria um passo no sentido de regras de imigração mais justas.

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