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15.7.09

Descascando o PAC III - Energia

Se tem um ponto em que o establishment da mídia e dos negócios elogia o governo Lula, é a política energética. O que por si só já deveria soar o alarme, e não é só pra ser do contra que eu digo que a política energética Lula é uma tragédia. Conseguiu combinar os problemas dos dois modelos anteriores, o tucano e o desenvolvimentista (milicos e Sarney), tanto pelo lado econômico quanto pelo ambiental. O modelo milico era baseado em grandes obras hidrelétricas, necessariamente cada vez mais distantes à medida que iam acabando os rios próximos dos pólos de consumo, enquanto o tucano era baseado em usinas termelétricas.

O modelo milico era problemático porque, com as obras financiadas pelo governo, o custo real era uma caixa-preta digna de um witticism do Churchill sobre a União Soviética. Somas enormes de dinheiro e incontáveis vidas humanas (literalmente) foram gastas em grandes barragens em regiões remotas. Pra fingir que continuava saindo barato, se omitia ou subfaturava os custos de capital e oportunidade, e esquecia-se inteiramente da transmissão - tanto do preço das linhas quanto da quantidade de energia desperdiçada pelo caminho, já que estas não são supercondutoras. E, enquanto milhares de pessoas se mudavam para o local por conta dos rumores de "desenvolvimento," na prática o investimento, intensivo em capital e precisando de pouca gente, se convertia num enclave de extração de recursos naturais digno da África.

Nem estou falando tanto assim das famosas usinas do Rio Madeira. Estas são menos problemáticas do que a maioria das grandes usinas da Amazônia; estão rio acima e nem tão distantes de Porto Velho, numa área já bastante degradada e povoada. Mas acaba de sair o EIA-RIMA das linhas de transmissão ligando Manaus e Macapá ao resto do país, e elas convenientemente passam pelo Xingu, pra conectar Belo Monte, uma usina gigante e pouco eficiente a ser construída no meio de um parque nacional. E tanto Belo Monte quanto Jirau e Santo Antônio são reflexos da mesma atitude: a salvação está nas grandes obras públicas, em conjunto com o incentivo a obras médias privadas. E são piores do que as dos milicos porque num ambiente em que empresas privadas lucram com a energia "barata" cedida pelo governo, enquanto os consumidores pagam tarifas européias.

As termelétricas (o lado tucano do modelo) são piores do que o original, também. Isso porque se mantém um incentivo à produção fóssil maior até do que o concedido à energia limpa (a subutilização de energia eólica e solar no Brasil é simplesmente criminosa, e contrasta não apenas com os países ricos mas até com nossos companheiros BRICs), com um agravante: o custo previsto pelo modelo de leilão feito finge que a usina ficará funcionando ao longo do contrato. Ora, no modelo brasileiro, em que as hidrelétricas fornecem a carga-base do sistema, as térmicas só são ligadas pelo Operador Nacional do Sistema quando necessário, para atender a demanda de pico ou quando os reservatórios estão vazios, então essa premissa é falsa. E a diferença entre a premissa e a realidade incentiva que se faça uma térmica com o combustível mais barato possível - motivo pelo qual o Brasil é o único importador de carvão do mundo que está construindo uma grande quantidade de térmicas a carvão, que sói ser o pior combustível possível em termos de impacto ambiental.

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