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7.12.12

O oligopólio dos homens bons

Não, não virei filial do Professor Hariovaldo. Os homens bons em questão foram assim chamados por si mesmos, como nessa capa da Veja. E achei curioso, nas duas últimas notícias sobre Luciano Huck, como esse status é pouco questionado.  Pedindo o perdão de fazer algo que abomino - a comparação com os EUA. 

Notícia 1: Luciano Huck constrói casa e demole sonho do boxeador Touro Moreno.

Luciano Huck tem um programa no qual reconstrói a casa de alguém - olha como ele é bonzinho - inspirado em programa similar da TV americana. No caso de Touro Moreno, aquele sujeito que viu dois filhos subirem no pódio olímpico de tão fanático por boxe que ele é, a casa em questão ocupou um terreno que Moreno comprou com as economias de décadas, para fazer uma academia de boxe. Porque TALVEZ o boxe seja mais importante pra ele do que uma confortável casa classe média. Incidentalmente, a conta de luz também foi pra 600 mangos. 

A notícia sendo divulgada em notinhas online sem maior importância (de novo: a família Moreno é responsável por um quinto das medalhas olímpicas brasileiras), Huck afirmou, por meio de sua assessoria, que o programa apenas entregou o prometido pelo quadro.
— Quanto à casa, fizemos aquilo com que nos comprometemos: se a família vencesse a prova, reformaríamos a casa, e foi o que fizemos. O ringue e todos os equipamentos doados foram um tempero a mais. Se eles querem uma academia, podem se inscrever no Mandando Bem, nosso quadro de fomento ao empreendedorismo. Quem sabe...
A resposta é, no mínimo, desrespeitosa. Não apenas não tenta sequer fingir que está compungida, lavando as mãos que nem se fosse teleatendimento de companhia telefônica, como dá o passo extra de ironizar a situação da família Moreno. Alguém imagina essa situação nos EUA? Um programa putativamente "bonzinho," denunciado pela família do Phelps, dando uma resposta dessas?
A segunda notícia: Luciano Huck pego dirigindo bêbado. Como todo rico pego em tais circunstâncias, tomou "só uma tacinha de vinho" e se recusou ao bafômetro. O "humorista" Rafinha Bastos destila sua verve afiada chamando Huck, no Facebook, de playboy inconsequente. Não, não é lá muito engraçado, mas também queriam o que do Rafinha Bastos? Ameaçado de processo, nosso Mark Twain pediu desculpas
De novo: alguém imagina isso nos EUA? Um humorista, ou qualquer outra pessoa (vamos ser sinceros, chamar o Rafinha de humorista é como chamar o Pinheiros de rio - só correto tecnicamente), chama um apresentador que se apresenta como bom moço, preso por dirigir bêbado, de "playboy inconsequente" e recua após ameaça de processo? E o contraste, claro, com as diversas ofensas raciais, homofóbicas, demofóbicas, machistas e o que seja de Rafinha Bastos, que ao contrário não lhe causam problema algum. Ênfase na imagem de Huck, por favor. Não é um polemista que vive de despertar ódios sendo pego e processando quem xinga. E para a falta de interesse da imprensa em geral, e em especial da imprensa de escândalos, por ambos os casos. Principalmente para o primeiro, em que do outro lado está, repita-se, sublinhe-se, uma família pobre mas que rendeu ao Brasil medalhas olímpicas. Sério, a biografia do Touro Moreno é impressionante. De fazer qualquer um que foda com ele e faça pouco caso ser crucificado pela mídia.
Só que, evidentemente, não. Por que isso? Por que não temos uma mídia sentindo cheiro de sangue com o comportamento não exatamente escrupuloso do "bom moço" oficial do maior grupo de mídia do país? Quando falo que nos EUA, ou na maioria dos países, seria diferente não é pela decência deles mas exatamente pelo contrário. Do que estou falando é de não termos por aqui o tablóide de escândalo (não, a Veja não conta). De não termos a mídia se engalfinhando, se fagocitando, se degladiando. Nossa mídia se assemelha mais a um clube de cavalheiros londrino, em que até as rivalidades mais mortais são civilizadas, do que a uma rinha de cães.
Reflexo, claro, do oligopólio que ela representa. Uma dúzia de famílias concentram, com a sociedade de boa parte da classe política Brasil afora, todos os principais canais de TV, jornais, rádios, revistas, portais de notícias, e distribuidoras de cabo. Nessa situação, até o animal que, em outros climas menos civilizados, é o mais frágil do cenário de entretenimento, o bom moço, é blindado. E fica a pergunta: se a Globo blinda o Luciano Huck, o quanto mais não blinda gente mais importante? O quanto pode se falar em liberdade de imprensa num país em que a mídia (com poucas e irrelevantes exceções) fala com uma só voz? 

2 comentários:

Rodolfo disse...

Esse Luciano Huck é um aproveitador da desgraça alheia.

alderijo bonache disse...

Interessante que o que não presta, ganha corpo em poucos dias! Sinal de que a IMORALIDADE, chegou prá ficar!