Um dos problemas com a utilização de mapas e infográficos por jornais é que, bem, eles são frequentemente utilizados como um jeito de se dirigir ao "homer simpson," que seria mais fácil do que o texto corrido. Isso pode ser constatado pela associação deles com a "popularização" (mediocrização) do próprio texto jornalístico, e relaxamento da ética do jornal. Só que, ao contrário do que pelo visto se acha, mapas frequentemente requerem mais conhecimento do que está por trás deles, e não menos, do que textos, ao mesmo tempo que fazem com que o não-entendimento se torne menos claro.
Um exemplo está nos mapas publicados pelo Financial Times em seu especial sobre a escassez de água http://media.ft.com/cms/6ba9128e-32c7-11db-87ac-0000779e2340.swf . Olhando para eles sem imaginar, pelo menos, os mapas (cartogramas) de água doce utilizável e de população, não fica imediatamente óbvio, por exemplo, que a Austrália ser um grande exportador de água é algo quase insano.
A situação é análoga, de certa forma, ao uso pelas ciências humanas de termos correntes, desde os anos 30 e 40, resignificados, ao invés de palavras de jargão mais óbvias como reificação, Gesellschaftsgemeinschaft, ou Weltanschauung. Elas fazem com que as pessoas achem que entendem do que está se falando, enquanto o "jargão" numérico das ciências exatas é mais obviamente indecifrável (exceto quando transformado em gráficos, aí fica "fácil")
O grande problema dessa combinação entre a defasagem entre o conhecimento especializado e o conhecimento geral, de um lado, e a dificuldade em apreender essa defasagem, do outro, especialmente da parte de jornalistas, é que ela torna muito mais complicado "deixar que o leitor tire suas próprias conclusões." Por isso que eu, como não tenho nenhum bom nome jornalístico a zelar, e com toda a honestidade, digo o mesmo que disse sobre a agricultura australiana sobre o cultivo de flores e frutas irrigadas no Nordeste (uma das motivações principais para a transposição do São Francisco): é maluquice.
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