Mas o assunto deste post é o Tango Finlandês. Por algum motivo, a febre de tango que passou pelo mundo inteiro nos anos 20 e sumiu, na Finlândia se manteve. Bem entendido, a distância - física e cultural - entre os dois pontos extremos do mundo ocidental é meio grande. Assim, ainda mais numa época em que não havia mp3, aliás nem um mercado de discos tão desenvolvido, em que o maior meio de difusão da música era a apresentação ao vivo, o tango que chegou à Suomi foi um tango filtrado pela Alemanha, quase transformado em marcha. E sofreu outra mudança, essa temática, num país quase recém-nascido, em que o nacionalismo associado às formas de vida e expressão locais era forte: foi camponesado. Ao invés dos lupanares e becos de Buenos Aires, o tango finlandês se sente em casa no campo. A solidão não é a da multidão, mas a do eremita mesmo.
A palavra-chave do tango finlandês é "kaiho," com significado talvez mais próximo do português saudades do que de qualquer outra. O tango finlandês logrou, ao se tornar mais lento e mudar de ares, uma operação fantástica, digna de Borges - juntou, através de um frio pântano boreal, a Mouraria e a Boca.
Hoje, esse tango-fado, quase detonado pela invasão dos Beatles, sobrevive principalmente na forma de festivais "tradicionais" com a intenção deliberada de valorizar a cultura "popular." Não deixa de ser outra ironia, digna de argentino, que uma música que preserva seu nome estrangeiro seja um símbolo nacional.
Eu não disse que era bom...
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