Eu volta e meia pareço doido por achar que, em muitos campos em que é criticado, o governo Lula foi até bem, ou mesmo espetacularmente (considerando-se a realidade) bem. Na economia, os juros reais foram pra um dígito e a FBCF passou de um quinto. Na redução da desigualdade, a ocorrida no Brasil em quatro anos, por mais oito, nos poria abaixo da China e dos EUA. No ensino superior, o orçamento das IFEs mais que dobrou, e o de fomento à inovação se multiplicou. Até o desmatamento na Amazônia caiu mais do que pode ser atribuído só à queda no preço da soja.
Agora, uma coisa realmente me decepcionou no governo, e pelo visto vai continuar a me decepcionar. Ao invés de usar os poderes da presidência para tentar mudar o foco do debate sobre segurança no Brasil, o governo Lula jogou fora, por um suposto deslize ético, quem queria fazer isso, e muito pelo contrário, encampou a linha-dura. Criou a Força Nacional, que eu acharia até uma idéia razoável se fosse uma força a ser usada em substituição à violência das "tropas de elite" estaduais. Ao invés disso, ela é criada a partir dos "melhores" agentes dessas tropas. Que são, não custa lembrar, torturadores e assassinos - e a própria Força Nacional, atuando no Espírito Santo, já foi acusada de tortura.
Todo ano, mais pretos e/ou pobres "bandidos" (como os chamam a polícia e os jornais - suspeitos e transeuntes, na vasta maioria) são mortos pelas polícias brasileiras do que jamais presos políticos foram mortos pela ditadura. A democracia brasileira, pra imensa maioria da população, não começou em 1985 nem em 1989, nem nunca. Lula, com a Força Nacional, deixou bem claro que não pretende ser o primeiro presidente de um Brasil democrático.
Outro diria que o que é pior é que essa violência por sua vez não resolve violência alguma. Eu já disse que não resolve antes neste blog várias vezes, mas não acho pior não. Dá vergonha saber que o meu governo -e é meu, sem dúvida, já que é legitimamente eleito - mata e tortura.
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