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16.6.04

Subúrbio da Música

Houve um tempo em que as autoridades do Rio imitavam Paris. Hoje a referência é a mesma, mas o termo certo seria macaquear.

Um exemplo é a "Cidade da Música," a ser construída (R$ 100 milhões, por enquanto) na Barra da Tijuca. O nome é copiado da Cité de la Musique parisiense, o arquiteto é o mesmo, mas as semelhanças param por aí.

A cité de la musique faz parte do parque de La Villete. Trata-se do antigo matadouro, numa região degradada recuperada pelo parque. É um complexo de lazer e educação integrado, atendendo a toda a população, que inclui parque, museu de ciência, centro de exposições/convenções, e uma casa destinada à memória do lugar. Pode ser alcançada pelo metrô.

A cidade da música ergue-se na Barra da Tijuca. Não há história do lugar para preservar. A descrição que o arquiteto faz do lugar remete a Brasília nos anos 60, não a uma cidade com quatrocentos anos de história, quando ele fala de um vazio a ser preenchido por um marco visual forte.

Nada contra Portzamparc, que é um ótimo arquiteto. Mas enquanto o exemplo francês segue uma tendência mundial estética (na valorização dos ambientes industriais contrapostos a obras pós-modernas) e urbanística, na valorização e aproveitamento de vazios urbanos, a sua macaquice carioca é construída no bairro mais rico e que mais cresce - e cuja estrutura suburbana faz a proximidade da Cidade da Música ser absolutamente irrelevante. Sem contar a "facilidade" de acesso à Barra pela maior parte da população do Rio. O que não deixa de ser uma tradição carioca - obras de prestígio para insuflar orgulho nos ricos.

Talvez seja porque pensa que o Rio não tem história? Ora, o Rio não só tem história, como está cheio de vazios urbanos a serem aproveitados. Muitos com imensas construções industriais, se o objetivo é imitar Paris e construir La Villete. Até mesmo um matadouro abandonado - hoje sede dum CETEP. Do lado da linha do trem, por sinal.

Pelo visto, porém, a idéia não é imitar Paris. É imitar um estereótipo de americano kitsch imitando Paris, comprando uma carrocinha de waffle e uma mini torre Eiffel pra pôr no jardim.

Mas pode deixar que num bairro de pobre está sendo feita a Cidade do Samba. "É que gringo é uma raça esquisita, gosta de pobre" deve ser o que eles pensam, enquanto sonham com mais shopping centers. Fora que mantém as coisas "no seu devido lugar" - alta cultura é pra rico, samba é pra pobre, e não se deve misturar os dois, senão é capaz do Rio se civilizar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tiago, gostei muito do seu primeiro post! Será q um dia vamos parar de macaquear o que é de fora (dos ditos "civilizados")?

Elis.