Comentaristas da verve do presidente interino (nudge nuge wink wink) do Brasil se dividem, parece, entre povo horrorizado com o ataque sistemático a tudo que há de progressista, com misoginia altos teores e demofobia explícita, e aqueles que, embevecidos, comentam que Temer "usa até mesóclise." Não se sabe se o segundo é amor encomendado ou aquela admiração criticada pelo Chesterton quando explica que Quinta-Feira "era, como todos os homens, capaz de temer uma força desmesurada, mas não era covarde o bastante para admirá-la." Mas o primeiro também é, acho, um problema de leitura.
Um rábula de quinta que dá um golpe e vira presidente do Brasil, se comportando como se tivesse virado prefeito de cidadezinha.
É
isso o "vou pôr a Marcela na área social," pra fazer chá das senhoras. O
Michelzinho escolhendo a marca tosca com bandeira velha. É
isso, e não alguma misoginia alucinada, o "mundo feminino." É a
linguagem empolada (e geralmente cheia de erros) de advogado de 5a. Não estou negando que Temer seja misógino e machista, só dizendo que o que falou é baseado na mediocridade e numa tentativa de usar uma linguagem não tão bem compreendida, não em alguma agenda positiva antifeminista. Olhaê mais uma do Baixo Advogadês "queremos fazer um governo fundado num critério de alta religiosidade." É ou não é digno de político de novela ou advogado de porta de cadeia?
E idem a maior parte do que fala o
povo em volta: nada do que propõem é novidade - a diferença é que agora
não têm, no governo, quem se lhes oponha. Repetem,
sem nem entender muito bem o que é, o ideário neoliberal porque acham,
confusamente, que isso é coisa séria, que os fará grandes. Isso quando
não simplesmente vêem nele a conveniência, própria ou dos que lhes
compraram. E por que esse povo não inclui nenhuma mulher, por que Temer não chamou nenhuma? Ué, porque ele não chamou ninguém, exceto talvez o Meirelles, talvez o Moraes. O resto tudo foi "loteado," foram outros que indicaram, e como esses outros são um dos Congressos mais machos do mundo, e mais ainda excluídas as parlamentares de esquerda, deu nisso.
E, de novo, a mediocridade, a tacanhice: fosse inteligente, Temer teria mantido algum ministério irrelevante (poderia ser o da cultura mesmo, exsanguinado, poderia ser, sei lá, ministério da beleza recatada) e poria uma mulher nele. Só pra evitar a manchete que correu mundo, que o pôs como retrocesso em relação, não apenas a todos os presidentes da Nova República, como até àquele ditador que gostava mais do cheiro de cavalo que do cheiro de povo.
E, de novo, a mediocridade, a tacanhice: fosse inteligente, Temer teria mantido algum ministério irrelevante (poderia ser o da cultura mesmo, exsanguinado, poderia ser, sei lá, ministério da beleza recatada) e poria uma mulher nele. Só pra evitar a manchete que correu mundo, que o pôs como retrocesso em relação, não apenas a todos os presidentes da Nova República, como até àquele ditador que gostava mais do cheiro de cavalo que do cheiro de povo.
(Mézanfã,
o fascismo, transformado em apoteose do Mal no imaginário coletivo
(justificável pelo ideário e pelos crimes cometidos) não era muito mais
que isso. Um bando de bufões corruptos. Os velhos oficiais do exército
alemão ficavam horrorizados quase continuamente com a incompetência e corrupção dos nazistas que lhes davam ordens.)
O mais curioso é essa porcaria pernóstica, hipercorreta, e semiletrada ser confundida
com uma fala de elite pelos jornalistas nacionais. Tipo, os correspondentes estrangeiros têm desculpa pra fazer essa confusão. Os nacionais, cacete.