Enquanto denúncias de corrupção comezinha dominam o noticiário brasileiro, e a crise européia o mundial, mal e mal se fala das revoluções no mundo árabe, mas não vai aparecer muita coisa relacionada ao que está acontecendo no Chifre da África, evidentemente. E o que está acontecendo é a maior fome desde 1984-85. Quando começou a carestia por lá, algumas publicações internacionais (lembro da Economist, da BBC, e do Le Soir) fizeram menção a ela, mas nenhuma brasileira; não parece que a coisa vá mudar tão rápido. A não ser que alguém faça um show, talvez, como nos anos 80.
A carestia começou a se tornar aguda com a seca, que já vem do ano retrasado. Não é uma seca dessas em que nada se mexe sob o sol não - o chifre da África continuou exportando, no primeiro ano da seca, centenas de milhares de toneladas de produtos agrícolas caros e que precisam de bastante água, como café, flores, e chá. Em março agora, três meses antes de as Nações Unidas declararem oficialmente um estado de fome na área ("fome" vem depois de "emergência humanitária"), a Etiópia ainda foi palco de uma imensa feira de flores, e a exportação de hortifrutis do país bateu recorde este ano. 450 milhões de flores cortadas exportadas enquanto 13 milhões de pessoas passam fome. Novidade nenhuma, diria o Mike Davis.
Pois bem, essa carestia apenas em parte natural já estava diminuindo um pouco, e a ONU estudava diminuir o status do problema em algumas áreas de fome para apenas emergência humanitária. E, claro, nessa mesma hora, ou seja, ontem, o governo etíope (aquele mesmo que mais acima está se orgulhando das exportações de flores e verduras enquanto seu povo morre de fome) entrar na Somália, como já tinha feito em menor escala o Quênia, e sempre sob as bênçãos dos EUA, para defender turistas e outros gringos da ameaça de sequestro por "islamistas." Não é por nada não, o Frank Miller que me perdoe, mas não me parece que o pior problema da região seja o terrorismo islâmico...
Foram 29,000 crianças de menos de cinco anos mortas até agora. Dos 2,5bn pedidos pela ONU, foram angariados 1,12bn. Os EUA prometeram 150 milhões, mas cortaram isso para 13 porque uma lei impede que saia dinheiro se parte da comida for roubada. O gasto anual da força-tarefa antipirataria no Golfo de Aden, ali do lado, é de uns 2 bilhões, desde 2008. (Sem contar o custo dos navios em si - outros 5bn.)
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