A construtora brasileira Camargo Corrêa é responsável, no momento, por um megaprojeto para o governo de Moçambique. Vai ela mesma conseguir o financiamento para construir uma hidrelétrica de grande porte por lá, e vender a energia. A vantagem para o governo são os impostos e a eventual reversão da concessão, já que a energia a ser gerada supera em muito as necessidades moçambicanas, e deve ser quase toda exportada para a África do Sul.
Enquanto isso, do lado de cá da Grande Poça, o candidato favorito nas pesquisas para presidente do Paraguai é o (ex-)bispo Lugos, que promete rever as condições em que o país exporta energia elétrica para o Brasil e a Argentina, numa situação mais ou menos similar.
Tanto numa situação como na outra, Brasil, Argentina e África do Sul estão na condição clássica de imperialistas, mandando trazer matérias-primas de locais distantes, com uma interação mínima com a economia local. E o mesmo, evidentemente, pode se repetir dentro de um país, sem que essa parte da dinâmica seja tão notada porque, por exemplo, caboclos amazônicos e paulistas são "todos brasileiros."
A energia elétrica abundante do Noroeste americano fez com que os estados americanos de Washington e Oregon fossem os grandes centros da indústria aeroespacial do país, junto com a vizinha Califórnia. A energia elétrica abundante do Tocantins, até agora, não levou uma única indústria metal-mecânica para o estado, nem há sinais de que a energia do Rio Madeira, quando este tiver sido detonado para fazer hidrelétricas, alimente alguma coisa a não ser as imensas linhas de transmissão até o Sudeste. Quando muito umas esmagadoras de soja.