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30.4.07

MEND

Um artigo na Vanity Fair mata dois joelhos com uma cassetetada só: é um exemplo de excelente jornalismo investigativo, uma denúncia inteligente das condições que permitem o funcionamento da economia mundial (que se baseia, como dizia Malcolm X, no sofrimento "daquele mineiro na África"), e serve pra me poupar o trabalho de escrever o próximo artigo da série Lugares Estranhos do Mundo. Porque poucos lugares podem ser mais estranhos do que um gigantesco labirinto de manguezais, onde instalações mecânicas gigantes guardadas por mercenários do mundo inteiro convivem com aldeias patrulhadas por homens possuídos por voduns, que se pintam com giz para se resguardar das balas. Pensando melhor, acho que tinha que começar uma série "evidências de que William Gibson era um profeta." Ou só "um jornalista."

27.4.07

A união faz a força

Acho que ninguém em sã consciência gosta da Segolène Royal. Ela é basicamente um Tony Blair de saias, que se fizer alguma coisa vai ser pra pior. Mas o argumento de que tanto faz como tanto fez é um conto no qual eu já caí quando Gore e Bush se enfrentaram, e depois dessa lição sem vaselina, confesso que torço com todas as forças por ela. Porque o melhor comentário sobre o Schtroumph Facho é esse aqui

25.4.07

A província mais solar do império interrogação

Deu no Valor de hoje:
Entre 2004 e 2006 o Brasil foi o país onde houve o maior crescimento do investimento em pesquisa e desenvolvimento. Os valores gastos chegaram a US$ 32,62 bilhões no ano passado, uma expansão de 36,6% em relação a 2004.

Na comparação com o ano imediatamente anterior (2005), o aumento foi de 15,6% e o país ficou atrás somente do Japão, que investiu 25% a mais.

No entanto, em termos absolutos, os gastos brasileiros com inovação ainda são muito tímidos. Enquanto o país passou de um patamar de US$ 24 bilhões em 2004 para US$ 32,6 bilhões no ano passado, a China investiu mais de quatro vezes esse valor, chegando a US$ 140 bilhões em 2006.

O dragão chinês está cada vez mais forte e, em 2005, passou a gastar, em dólares, mais do que o Japão com pesquisa e desenvolvimento, e foi superado apenas pelos EUA.

Para Marc Giget, que apresentou esses números em palestra durante o II Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, o Brasil não vai mal no que diz respeito à inovação, mas o desafio-chave para avançar ainda mais é a educação.

Segundo ele, é preciso formar profissionais pós-graduados em áreas técnicas que trabalhem com inovação e agreguem valor à produção local. "Na China, existem 13 milhões de estudantes nas Universidades", lembra Giget, membro do Centro Nacional e Artes e Ofícios da França.

Giget define a inovação como a integração melhor dos conhecimentos em um produto criativo que permita "ir além do que tange a satisfação dos indivíduos."

E acrescenta que nem sempre P&D precisam levar à criação de novo material ou de novo processo, mas podem, sim, levar a novo jeito de usar certo material ou de realizar determinado processo.

Ainda assim, o Japão, que investe cerca de US$ 120 bilhões por ano em pesquisa, é o líder em criação de novos produtos e registro de patentes.

Em 2006, foram 350 mil, mais de duas vezes o número do segundo colocado do ranking, os EUA, que patentearam 169 mil produtos e tecnologias.

O Brasil ficou em 11º, com 4.280 patentes requeridas, bem atrás da China (48 mil), de Taiwan (9 mil) e da Itália, com 4,4 mil patentes.

Para Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), entidade que organizou o congresso, a ampliação dos investimentos em inovação é essencial para que as empresas brasileiras se tornem mais competitivas.

Hoje, segundo dados apresentados por Marc Giget, o Brasil investe 1,6% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em P&D e está na lista dos grandes países investidores em inovação junto com EUA, China e Índia.

O Japão, porém, investe 3,2% de seu PIB, que é quase três vezes o brasileiro. A China, investe menos: 1,5%, mas tem um PIB quase cinco vezes maior que o do Brasil.

Ernesto Pousada, diretor da Suzano, empresa produtora de papel, diz que faltam projetos de inovação que pensem em como gerar valor para o consumidor final.

Para ele, o setor privado ainda precisa criar uma cultura para inovação de forma a estruturar melhor a aplicação de recursos em pesquisa.

12.4.07

RIP

Ia escrever sobre o 300, e sobre o Pronaf, ao invés disso

RIP Kurt Vonnegut
Que escreveu Slaughterhouse Five, sobre a loucura de Dresden da qual ele foi um dos poucos sobreviventes, e Cat's Cradle, sobre a loucura da corrida haplocientífica da qual foi um dos muitos, e mais um monte de coisas fodas. E dançava.
Ah, ela fala, bem, você não é pobre. Sabe, por que você não compra pela internet uns cem envelopes, e guarda no armário. E aí eu finjo que não ouço ela. E saio pra comprar um envelope, porque vou me divertir pra caramba ao comprar um envelope. Encontrar um monte de gente. Ver umas gatas lindas. E passa um caminhão dos bombeiros. E eu aceno pra eles. E, pergunta uma mulher, que cachorro é esse? E, não sei. A moral da história é que, bem, a gente tá nesse mundo pra enrolar. E, claro, os computadores vão acabar com isso. E, o que o pessoal do computador não entende, ou não se importa, é que nós somos animais dançantes. Sabe, a gente adora se mexer. E, agora nós não devemos mais dançar.

Mais do mesmo:
http://en.wikiquote.org/wiki/Kurt_Vonnegut

11.4.07

300 - Gott mit Uns

Ai minha nossa senhora aquerupita, é pior do que eu pensava!
Tem quem reclame da violência do filme - bem, me incluam fora dessa. Sou fã de Kill Bill, assisti Ong Bak sem piscar um olho, e me amarro em violência como estética. Então não, não é a violência gratuita meu problema. Meu problema é com as horas em que ninguém tá levando porrada.

Como bom nerd, sempre fui tarado pelos quadrinhos do Frank Miller. Mas o homem tem certas tendências um...digamos, politicamente incorretas? Não muito simpáticas? Meio nazis? Fascistas. Fascistas parece bom. Isso é bem nítido em quase toda a obra dele, desde que o Übermensch Batman enfia porrada no Übermensch Super-homem pelo crime de ter se sujeitado aos Untermenschen, mas 300 sempre foi, pra mim, a única revistinha de que eu realmente gosto e que eu nunca entregaria pr'uma criança pra ler, de medo que ela gostasse demais.

Isso porque no discurso do Leônidas, falando sobre liberdade e lei e razão e justiça, tem uma sombrinha meio breu de discurso de fascista, já que essa liberdade e lei e razão e justiça não têm nada a ver com nenhuma ação, são característica inerente dos espartanos branquelos versus a tirania dos negões efeminados que são os persas. Afinal, o Rei Leônidas deixa bem claro, como se a própria realidade heavy metal espartana não bastasse, que aquilo não é uma democracia. E tem toda a glorificação dos "fortes" etc etc etc que me lembra só a frase do Chesterton sobre Quinta-Feira - "como qualquer outro, ele era covarde o bastante pra temer uma força desmesurada. Mas não era covarde o bastante pra admirá-la."

Parêntese - de onde o Miller tirou a idéia de representar os arianos originais como negões?
Pois bem, então pra que diabos fui ver um filme baseado numa revistinha meio nazi? Bem, porque ideologias à parte Frank Miller é muito bom. E Sin City, a outra adaptação cinematográfica de uma obra sua, é um puta filme. Achei que dava pra relevar esse fascismozinho subjacente e só me empolgar com os espartanos descendo a porrada geral e sendo mortos. Aí entra o diretor pra estragar a festa.

O filme é tecnicamente lindo, isso não dá pra negar. O pessoal da fotografia e dos SpFx tá de parabéns. Mas, bem, é um caso raro em que inequivocamente tudo que o roteirista adicionou ao material original serviu pra estragar. E no caso, estragar significa tanto "menos empolgante" quanto "mais fascista."

- A porradaria, que lembra joguinho de Playstation (aliás, o filme todo) deixa meio ridículo todo o papo das Termópilas serem um local estreito, onde o número dos persas não conta. Eles tão todos mandando ver no Kung Fu Prince of Persia, não aproveitando o terreno.
- Transformou um filme épico em um filme de fantasia, com os Imortais virando orcs, um ogre, um carrasco monstro, rinocerontes de guerra...coé? Uma regra básica de fantasia e ação é que você mede as coisas pelo universo onde tão; é menos impressionante mandar uma lança pelo ar uns quinze metros se o teu amigo matou um rinoceronte de primeira. Aliás, não´é nada impressionante. É que nem a diferença entre o D'Artagnan brigar com três de uma vez e alguém fazer o mesmo numa revistinha Marvel.
- Comentei dos Imortais terem virado orcs? Pois é, mas os persas todos viraram monstros degenerados. No Frank Miller, eles eram só boiolas e "tirânicos." No filme, eles matam criancinhas e fazem árvores de gente. Fora a cena de estupro gratuito pelo amigo deles espartano. E que o Xerxes, que na revistinha era arrogante e fdp mas olhava com desdém pra lança que arranca-lhe os piercings, no filme fica chorando que nem menina.

Aliás, toda a parte de Esparta do filme, que não tava na revistinha, é desnecessária. Só serve pra duas coisas: quebrar o ritmo do filme (que deveria estar focado na violência e no sentido de tragédia, do fim se aproximando), e, ao humanizar os espartanos, ficar ainda mais nazi. Bem, ao humanizar e arianizar, porque os espartanos da revistinha tinham cabelo tóim-óim-óim, os do filme podiam entrar no pôster de recrutamento do NSDAP. Isso porque, ao invés de você ter dois lados se pegando, desse jeito você tem os bonzinhos (espartanos) vs. os malvados. O filme força a barra diversas vezes pra deixar os espartanos parecendo gente; mostra o machismo persa como desculpa para a "blasfêmia, loucura" de jogar mensageiros no poço, mostra o capitão chorando pelo filho (achei nessa hora que ele ia matar o império persa inteiro), o Leônidas sendo marido e pai amoroso... Diga-se de passagem, com todo o respeito à Gorgo histórica e lendária (que devia ter uns 14 anos e teria dito a frase do "com seu escudo ou sobre ele"), o casamento em Esparta se parecia mais com o primeiro dia na cadeia de um moleque magrelo do que com uma relação amorosa coigual heterossexual na moderna sociedade ocidental.

Em resumo: o filme podia ter sido dirigido pelo Mel Gibson, com o sotaque escocês do Leônidas berrando FREEDOOOOOM.
Gostei mais dos créditos no final. Tá, a Oráculo é de babar.

4.4.07

Descamisados del aire

Fico na dúvida se o artigo abaixo, sobre disparidade de renda e social, é um caso intencional de ironia ou se foi sem querer. Mas mesmo na comparação entre os que têm e os que têm mais, é bom porque deixa clara uma das facetas da disparidade de renda, que muita gente não entende: que a pobreza não é mensurável simplesmente no acesso a determinada quantidade de bens (materiais ou não), mas pela própria disparidade dentro da sociedade. Sem nem entrar na questão, proposta pelo Elias e desenvolvida na economia pelo Sen, de que essa disparidade deve ser medida mais em termos de oportunidades do que de estados presentes.

http://www.economist.com/blogs/freeexchange/2007/03/airlines_and_inequality.cfm