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18.11.05

Meu momento neoliberal II

Bom, III talvez, se contar a proposta de quebrar a Petrobras. Enfim: apesar do espetáculo da caça às bruxas, a preocupação com as deficiências logísticas brasileiras é um tema mais ou menos constante. Entre os problemas apresentados está a distribuição entre modais dessa logística: o Brasil teria caminhões de mais, e caminhões são o meio de transporte menos eficiente, logo mais caro e poluente, depois do avião.

Como eu já disse lá no post sobre poluição, essa situação é em parte derivada de fatores históricos, em parte geografia mesmo - boa parte das vantagens de ferrovias e hidrovias são anuladas pela topologia brasileira, que põe uma barreira formidável entre o planalto e o litoral, e enche os rios de cachoeiras. Mas existem, no momento, dois fatores principais privilegiando o caminhão sobre o trem, a balsa ou o navio:

1) O custo de capital. Caminhões são mais baratos do que ferrovias e navios; ergo se pagam mais rápido; ergo, no país em que os juros não descem a um dígito desde 1980, são mais baratos ainda. Se alguém nesse país ainda não reclamou dos juros altos (tudo bem que alguns precisando de investir em óleo de peroba para fazê-lo), desconheço. Mas esse não é o ponto a que quero chegar.

2) O óleo diesel é objeto de uma política de preços que funciona como um subsídio de valor difícil de determinar, mas bilionário. Ora, o preço do óleo diesel é justamente o maior incentivo para que se invista num meio de transporte mais eficiente (ie que gaste menos óleo diesel). Se você gasta dinheiro público para torná-lo mais barato, está diminuindo o valor da eficiência no transporte, e aumentando a competitividade de ônibus e caminhões contra trens, balsas e navios. Aumentar os preços do diesel é quase um free lunch: o governo fica com mais dinheiro, e assim leva a uma situação melhor.

O "quase" fica por conta da necessidade de dosar esse aumento de modo a minimizar o efeito sobre a inflação.

3 comentários:

nenhum disse...

O principal problema do caminhão é o custo de manutenção da via. Ele é a causa dos altos custos dos pedágios nas auto-estradas, e nas vias de menor porte não-pedagiadas eles são a grande causa da degradação das estradas. Um quilômetro de rodovia de nível zero(Mais ou menos na média das Interstates americanas ou das auto-estradas de São Paulo) sai por mais de dez milhões de reais. Dez vezes mais que uma ferrovia.

Na verdade, se você inclui dentro do custo rodoviário a questão da construção e manutenção das rodovias tem uma conta que não é nada animadora. Mesmo para o classicamente deficitário transporte de passageiros.

Há também a questão dos acidentes e da poluição do ar. Boa parte da justificativa para a construção do que eu acho monstruoso rodoanel de São Paulo tem dos caminhões.

thuin disse...

Mas a divisão dos custos rodoviários , que dificilmente seria mudada, não é jaboticaba. De certa forma, o Brasil, com as privatizações e pedágios caros, até é dos países que estão trabalhando mais nesse sentido, o de transferir aos usuários o custo do transporte rodoviário.

nenhum disse...

Sim, não é. Os americanos gastam duzentos bilhões de dolares com manutenção e rodovias, por exemplo.

Mas, a maior parte dos custos que uma concessionária no Brasil tem com manutenção de vias é causada por caminhões. E esse custo é repassado para todos os usuários, inclusive os que dirigem carros de passeio. Hoje, o pedágio se tornou um custo pesado: pode-se pagar mais de 80 reais numa viagem de menos de 300 km. Querendo ou não, isso se torna pesado para muitas pessoas.

Há também o lado de muitas rodovias de mão simples, que fazem ligações importantes entre estados, estarem degradadas em grande parte por causa do tráfego pesado de caminhões(Destaque para o trecho mineiro da BR-116, para a BR 101 e BR 153 na sua totalidade).

Parte considerável das rodovias que servem São Paulo praticamente só existem para rodar caminhões. Boa parte da estrutura que os caminhões usam também não é pedagiada(Ex, a Marginal Tietê em São Paulo, o maldito rodoanel).

Fica a questão também a que ponto essa situação se sustentaria se nossos caminhoneiros não fossem tão mal-pagos e se TODO o custo da manutenção das vias caisse sobre as transportadoras, como ocorre com as empresas ferroviárias.