Normalmente não ponho experiências pessoais aqui porque elas são, bem, pessoais. Mas o encontro com a junta médica do INSS foi tão bizarro e, ao mesmo tempo, provavelmente tão corriqueiro que achei que merecia ser narrado.
Estou de licença médica, incapaz de ficar em pé ou sentado por mais de duas horas de uma vez (Por isso, também, a falta de posts novos por aqui ultimamente), andar de carro por muito tempo, ou carregar peso; a causa é algum problema na coluna cervical que comprime a medula, provocando dor forte nas pontas dos dedos se descumpro algum dos preceitos listados; pra complicar, também tenho uma coisa chamada condromalácia patelar de tipo III nos joelhos, que significa que, como a do Batman, minha cartilagem do joelho disse tchau. Não é divertido, especialmente quando vou no supermercado e minha namorada com metade do meu peso carrega as compras sozinha. Felizmente não houve, ainda, dano neurológico permanente; saíram hoje os resultados da eletroneuromiografia, que é uma espécie de tortura com agulhões e eletrochoque para medir o estado dos nervos.
Como a licença médica foi renovada, e assim teria mais de 120 dias até seu fim, fui encaminhado a uma junta médica do INSS para a perícia. Ou melhor, teoricamente para a perícia. Ao invés disso, a médica que começou a me entrevistar exigiu os exames de imagem, ignorando o fato de que estes já haviam sido apresentados antes ao INSS e que os exames nos quais se baseava a renovação eram os clínicos. Depois, tirou minha pressão (estava alta - insônia, gripe, e pressão alta basal) e olhou para minhas costas, sem pedir que eu tirasse a camisa. Apertou com os dedos dois pontos na altura do peito (o problema, lembrando, é no pescoço, com reflexos no lombo). Não fez nenhum outro exame clínico (há dúzias de exames clínicos para as condições em que estou).
Foram chamados os outros dois membros da junta. Me disseram, exaltados, que os exames de imagem "não provavam o que os médicos disseram nos atestados." Quando tentei explicar, fui interrompido duas vezes por um deles, enquanto a outra dizia "não, deixe ele falar." Ao final, disseram que o que eu tinha devia ser "psiquiátrico," por conta da pressão alta. Uma conclusão, pelo menos, original. Apesar disso, confirmaram a licença, mas reduzindo-a de 4 para 2 meses; explicaram que "se for necessário você pega outro atestado." OK, não discuti para além disso.
Mas fica a indagação: uma perícia médica não deveria envolver, bem, um exame médico? Ao que parece, se meu caso não for excepcional (e não há motivo pra supor que seja), os "peritos" do INSS estão lá para procurar as exatas palavras do atestado num exame de imagem e, não as encontrando, para fazer um arremedo de interrogatório, com direito a good cop - bad cop. Se a idéia não é fazer exame médico de verdade - e não creio que dê pra fazer exame ortopédico olhando-se para as costas vestidas de um paciente e sem nenhum teste de manipulação, a não ser que a médica tenha visão de raios X - o INSS deveria contratar policiais treinados em métodos de interrogatório do que gente que os aprendeu assistindo seriados policiais.
3 comentários:
Interessante que passou hoje mesmo num jornal da TV aberta (acho que o Jornal Hoje) um caso de um segurado do INSS que também tem problemas de saúde e, no caso dele, teve o benefício negado. O cara tem problema de síndrome do pânico, tinha laudo psiquiátrico, mas o INSS rejeitou.
Com certeza seu problema é a regra.
A política do INSS, que ainda bem que todos os médicos não cumprem, ou teriam-lhe negado a continuidade do auxílio-doença, é a de que: "Se está cruelmente incapacitado de trabalhar por alguns dias, então faz jus à licença. Se está incapacitado de trabalhar por anos, quiça pelo resto da vida, procure outro jeito de ganhar dinheiro". Muita gente que critica os "pendurados" do INSS tem a mesma incapacidade de abstrair que aquele "mal estar" que faz eles tirarem um dia do serviço, coisa normal, pode, em muita gente, durar para o resto da vida.
Me corrigindo, "bem que nem todos os médicos cumprem". A severidade/arbitrariedade/burocracia do INSS não é diferente da realizada pela Receita Federal, para quem elogie um, que elogia ambos. Uma opção é tentar subornar o médico. Tal "opção" corrupta, contudo, é utilizada com melhor desenvoltura pelas empresas do que por inválidos desempregados...
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