O descaso do governo do Rio de Janeiro para com a universidade não é novidade para ninguém. Notícias sobre marquises caindo na UERJ são quase recorrentes (aqui mesmo já reclamei), assim como de sucateamento de toda a (minúscula) rede estadual de ensino superior. Mesmo em notícias da própria assessoria de imprensa do governo ele pode ser visto, como nesta matéria sobre a mudança do QG da Polícia Militar para um prédio pertencente à universidade, que diz que com a mudança irá "melhorar o aspecto do prédio, que apresenta má conservação: a pintura das paredes está descascando e há janelas quebradas." A idéia de que o aspecto do prédio possa melhorar com o uso pela própria universidade nem sequer passa pela cabeça do governo estadual.
Não é um descaso de hoje (conta, pelo contrário, décadas), mas contrasta com outras iniciativas pioneiras dos governos do Rio de Janeiro, Distrito Federal, e Guanabara no campo do ensino e pesquisa. Assim, a Universidade do Distrito Federal foi a primeira universidade concebida como tal no Brasil (um pouco antes da USP; a UFRJ foi criada só pra dar diploma ao rei da Bélgica). A UENF, criada por Darcy Ribeiro no norte do estado e que hoje lhe leva o nome, mudou a forma de se estruturar a universidade. E, no governo Lacerda, mais modestamente, sem o nome de universidade, foi criada a ESDI - Escola Superior de Desenho Industrial, inspirada na Bauhaus e na Escola de Ulm, primeira escola de design do Brasil.
A modéstia no nome saiu caro a alguns professores e técnicos da ESDI, uma vez esta incorporada à UERJ em 1975. Os fundadores Bergmiller, Goebel, Wolner, e Zuenir Ventura, os professores da segunda geração Leonardo Visconti, Roberto Verschleisser, Arisio Rabin, Uwe Peter Kohnen, além dos mestres de oficina: Walter, Neoci, e Ripper, e Cenira
Foram incorporados, com o descaso renitente aliado à uma sonsice deliberada, à rede de professores estaduais das escolas, e não à de professores universitários, recebendo, em troca de fazer da sua a melhor faculdade de desenho industrial da América Latina, salário mínimo. Entraram com uma ação na justiça em 1994; a sentença correu em 1996 o Estado valeu-se de sua infinita capacidade de adiar, assegurada pelo Judiciário brasileiro, desde então para adiar seu cumprimento e, especialmente, não pagar os atrasados. A sanha em não pagar aos professores é tanto mais curiosa porque não faz sentido sequer econômico - o valor da manutenção da ação por vinte anos em muito supera o dos atrasados que deveriam ter sido pagos em 96.
Como os seres humanos são mais frágeis e menos duradouros do que os Estados e as injustiças, já morreram cinco dos professores e técnicos que deram entrada no processo contra o Estado. Entre eles Goebel Weyne (responsável pela programação visual da Novacap, empresa que construiu Brasília), Ulwe Kohnen formado na ESDI e que nela lecionou por 35 anos até sua morte em 2008, e o último, Leonardo Visconti, que morreu este ano, em 17 de março e foi responsável pela identidade visual de empresas como a CSN, a CEG, e o Hemo-Rio, além dos metrôs de Rio e São Paulo.
Aparentemente, o governo de Cabral (como antes dele o fizeram os Garotinhos, Marcello Alencar, e Brizola) conta com a morte como sua aliada; parafraseando Keynes, no longo prazo da justiça, estarão mortos todos.
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