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1.7.11

Pai dos pobres, mãe dos ricos

O BNDES avisou com orgulho, no começo do mês, que pela primeira vez na sua história estava emprestando, neste ano, mais dinheiro a micro e pequenas empresas do que às grandes. O anúncio foi acompanhado de declarações empolgadas sobre a maturidade do mercado de crédito brasileiro, que fazia de empréstimos a grandes empresas subsidiados uma necessidade do passado, exceto para o setor de infraestrutura. Agora, imagino que essas declarações estejam na pasta "esqueça o que disse" dos dirigentes do banco, já que Abílio Diniz acaba de ganhar quatro bilhões (dez vezes o que ganharia um estádio da copa) para a bizantina fusão do Pão de Açúcar com a filial brasileira do Carrefour.

São duas as alegações feitas pelo governo para defender o apoio do BNDES à fusão. Uma é de que não é apoio de verdade, já que a BNDESpas, braço de investimento do banco, é quem está atuando, e portanto não haveria dinheiro público, do tesouro ou do FAT, envolvido. Argumento meio estranho, já que qualquer dinheiro do BNDES também é público, cáspite, e não apenas os que ele captou junto aos cofres da União ou da Previdência. Se um maluco resolver doar dinheiro ao BNDES, esse dinheiro continua sendo público. Se acharem ouro embaixo da sede do banco, vai continuar sendo dinheiro público. E dinheiro público não deveria ser empregado numa operação que não tivesse claro interesse público.

A outra justificativa é a de que com isso estaria sendo criada uma "campeã brasileira," uma companhia brasileira com peso internacional, capaz de competir no mercado global e ajudar na exportação de produtos brasileiros para o mundo. É a mesma justificativa que foi usada quando permitiram a Brahma e Antarctica se fundirem, abocanhando três quartos do mercado brasileiro de cerveja e aumentando significativamente os preços locais, apenas para a "Ambev" ser abocanhada pela belga Interbrew logo depois, fazendo com que uma companhia estrangeira tenha uma situação de quase-monopólio no Brasil. O mais curioso é que, longe de evitar o assunto Ambev, os representantes do governo mencionam o exemplo como positivo.

A alegação, tanto sobre a Ambev quanto sobre o Pão de Açúcar, é que o controle pode passar a mãos européias, mas executivos brasileiros controlariam tudo. Ora, bom pra eles, mas não significa nada para o país, a não ser talvez para alguém ligado a administração encher a boca sobre as qualidades de nossos Gordon Gecko. Melhor uma empresa brasileira com um administrador butanês do que uma belga, ou francesa, que por acaso tem um sujeito nascido no Brasil no comando. (Como a Renault e a Nissan, cujo presidente conjunto é um libanês nascido no Brasil - e que nem por isso merecem nenhum incentivo do governo brasileiro.)

OK, pelo menos o BNDES petista dá carradas de dinheiro a grandes empresas sem interesse público definido. Ainda é melhor do que as "privatizações de graça" que eram só o que o BNDES tucano fazia, pelas quais se alienava dinheiro sem razão definida. Por outro lado, a operação de Abílio Diniz, que é bizantina justamente para poder mantê-lo no comando da empresa apesar do contrato que tinha assinado com a Casino (arquirival na França da Carrefour), é tão nebulosa e legal, ética e moralmente questionável que é digna de um Daniel Dantas.

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