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4.6.10

A palavra é sweatshop

A Apple passou, semana passada, a Microsoft, em termos de valor de mercado. Uma reversão espetacular da situação a que muita gente estava acostumada, possibilitada pela diversificação que levou a empresa a investir em mercados distantes dos desktops, como os iPods, iPhones, e agora iPads. Infelizmente para a companhia, a notícia veio junto com uma onda de suicídios entre os operários que fabricam os gadgets bonitinhos, mudernos e descolados dela, nas fábricas gigantes da taiwanesa Foxconn na China continental. Muitos applemaníacos, que tendem a se considerar vagamente de esquerda, provavelmente ficaram chocados ao ler o anúncio de Jobs de que a Apple aumentará o salário médio na fábica para 171 dólares por mês. Isso mesmo, meio salário mínimo por mês. Por jornada de trabalho de 54 horas semanais.

Na verdade, não é novidade nenhuma. A Apple, apesar de ser vista como alternativa pelos seus usuários e design, e por ser considerada a Davi contra Bill Goliath Gates, sempre foi das empresas americanas com os piores desempenhos em termos de responsabilidade social; Steve Jobs é conhecido por estar a um passo de Ebenezer Scrooge.

Mais assustadoramente, o trabalho semiescravo (ou escravo mesmo, como na zona industrial de Kaesong, que diga-se de passagem não foi fechada apesar de teoricamente os dois países estarem à beira de uma guerra apocalíptica) é essencial a todo e qualquer bem de consumo de alto valor agregado humano e baixo custo. É muito provável que a roupa que você está vestindo tenha sido feita por um escravo. Boliviano em São Paulo, centroamericano em Nova Iorque, africano ou iugoslavo em Milão, marroquino em Barcelona, chinês em qualquer lugar do mundo. A grande produção horticultural dos países centrais, como o carvão vegetal do aço brasileiro, o carvão que move a indústria chinesa, ou quase qualquer coisa ainda tem trabalho semiescravo.

Pense no Haiti - ele é no mundo inteiro.

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