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24.9.08

Eu qué!

Enzo Ferrari é o c*****o Ferrari boa é essa aqui:



Para a grande maioria das empresas, retomar sistemas de produção usados há mais de 500 anos é algo inimaginável. Mas não para a editora italiana FMR. Enquanto se discute a possibilidade de a internet levar, no futuro, ao desaparecimento dos livros impressos, a FMR faz uma aposta mais do que ousada: produzir livros como na época do Renascimento italiano, resgatando a riqueza artística e os métodos artesanais empregados naquele período. O resultado dessa estratégia é o livro contemporâneo mais caro do mundo: "Michelangelo. La Dotta Mano" (ou Michelangelo. A Mão Sábia), uma verdadeira obra de arte em folhas que custa ? 100 mil de euros (R$ 241 mil).


Os primeiros 33 exemplares, do total de 99 da edição limitada, já foram vendidos a clientes europeus e americanos, e estão em produção, o que leva de três a seis meses. A suntuosa obra de 24 kg e 264 páginas foi mostrada ao Valor como se fosse uma antigüidade rara que acaba de ser descoberta, com direito a luvas brancas para o manuseio.


A capa do livro abriga uma escultura em mármore de Carrara. Trata-se de uma réplica da Madonna della Scala, uma das primeiras obras de Michelangelo, ainda adolescente. A pedra, segundo a FMR, foi extraída da mesma pedreira (a Il Polvaccio) da qual Michelangelo costumava adquirir o mármore para suas principais criações.


O veludo de seda que cobre a capa é confeccionado em teares antigos, que produzem somente oito centímetros de tecido por dia. "É uma aventura louca. Uma verdadeira provocação", disse ao Valor Marilena Ferrari, presidente do grupo FMR. Ela pretende, ao ressuscitar os conceitos e técnicas do Renascimento, dar novo vigor à tradição do "made in Italy".


"O Renascimento não faz apenas parte da História. É o que permite hoje a sobrevivência da produção italiana, ressaltando a grande criatividade e a excelência de seu refinado trabalho artesanal. Se quisermos impulsionar o 'made in Italy' devemos retornar às suas origens", diz Marilena, que contratou ateliês de artistas e artesãos para os trabalhos de encadernação, impressão gráfica, caligrafia e fotolitogravuras, entre outros.


Divulgação

O papel, elaborado com puro algodão, fibra por fibra à mão, não contém ácidos nem derivados de clorina, que causam a deterioração do material com o tempo. Uma marca d´água, feita com uma técnica usada no século XIV, reproduz a assinatura de Michelangelo em cada página do livro que relata sua vida e obra. O texto foi escrito por Giorgio Vasari, arquiteto e pintor italiano, que viveu no século XVI e considerado por especialistas o melhor biógrafo de artistas conterrâneos. Até mesmo as dimensões da obra, de 42 por 68 cm, aplicam a chamada seqüência Fibonacci - relação numérica que permite chegar a um "número de ouro", utilizado há séculos na arquitetura, escultura e pintura para simbolizar a harmonia.


"Michelangelo. La Dotta Mano", lançado por ocasião dos 500 anos do início dos afrescos do artista na Capela Sistina, reúne 45 gravuras de desenhos e documentos do artista italiano. Além dos 33 exemplares já vendidos a pessoas físicas, outros 33 serão destinados a museus internacionais, como o do Prado, em Madri, que já recebeu a obra. Mais um lote de 33 deverá ser produzido no médio prazo com uma capa diferente (reprodução de outra escultura do artista).


"Michelangelo. La Dotta Mano", é apenas o primeiro livro da nova coleção "Book Wonderful" do grupo FMR. O segundo, sobre o escultor Canova, sairá em janeiro. Um outro, sobre a rainha francesa de origem italiana Catarina de Médicis, será totalmente escrito à mão e terá apenas cinco exemplares. O primeiro deve ficar pronto no final deste ano. Esse livro não estará à venda e servirá como uma espécie de amostra do trabalho idealizado por Marilena Ferrari.


Com ele, a presidente da FMR planeja rodar o mundo para apresentar seu projeto de marketing "made in Italy" a clientes abonados. "Não posso vender uma obra com essa sofisticação. Que preço cobraria?", pergunta, referindo-se à obra sobre catarina de Médicis. Para esse projeto, que vem sendo desenvolvido há dois anos, ela precisou criar escolas de caligrafia e de trabalhos em miniaturas.


Os livros têm garantia de 500 anos. E isso não é brincadeira. "A composição do papel e dos demais materiais foi pensada pelos artesãos para perdurar. É algo seríssimo", diz Marilena. Ela fundou, em 1992, a ART´E, uma editora especializada em livros de arte, que comprou, em 2003, a lendária editora FMR, iniciais de Franco Maria Ricci, criada nos anos 60.


Ricci entrou para a história do mercado editorial mundial pela riqueza do conteúdo e sofisticação dos livros publicados por sua empresa. Esse aristocrata de Parma começou lançando o Manual Tipográfico de Bodoni. Nos anos 70, ele reeditou a prestigiosa Enciclopédia de Diderot e d´Alembert, obra máxima do Século das Luzes.


Ricci tornou-se um verdadeiro ícone do luxo, cercado por grandes personalidades artísticas e literárias. Lançada em 1982, a revista de arte FMR é, até hoje, considerada a mais bela e renomada do mundo. Mas em 2000, com 63 anos e sérias dificuldades financeiras, Ricci vendeu a FMR a uma empresa com participações em grifes de moda, como Dolce & Gabbana e Versace, que, por sua vez, a revendeu três anos depois à ART´E´.


"FMR estava se desmanchando. Era uma perda para o mundo da cultura", diz Marilena. Naquele período, ART´E´ já havia conquistado prestígio internacional. Em 2000, a editora realizou para o Papa João Paulo II a obra Evangeliarium. Foi com esse mesmo livro que o cardeal Ratzinger prestou sermão antes de ser nomeado Papa.


No início de 2008, as duas empresas realizaram uma fusão, que deu origem ao grupo FMR. Com sede em Bolonha, na Itália, e escritórios em Paris, Madri e Nova York, o grupo FMR faturou em 2007 ? 42 milhões de euros, com expansão de 14% em relação a 2006. A livraria de Milão foi recentemente fechada, restando apenas a mítica de Paris, situada na elegante galeria Vérot-Dodat, ao lado de grandes grifes de luxo. É o show-room da FMR.


A FMR também lançou a série "Book Beautiful", com livros "bem mais acessíveis", entre ? 2 mil e ? 12 mil euros, sobre artes, literatura, religião e viagens. E quem acha exorbitante o preço de ? 100 mil euros por um livro de arte é porque não viu o modelo de bolsa em couro de crocodilo na Hermès em Paris: mais de ? 120 mil euros e não traz nada sobre o Renascimento.

Um comentário:

Anônimo disse...

E a McLaren, o que é:?/