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13.3.13

Atropelando o Aterro

Eike acaba de receber permissão do Iphan pra fazer seu centro de convenções no meio do maior (aliás, único de grande porte) parque do Rio de Janeiro. Alguns comentários:


1) Apesar do lugar ser tombado e concessão pública, não houve concurso público de arquitetura pra escolher o projeto (também não revelado) de Índio da Costa (pai do candidato a vice-Serra).

2) O projeto é uma encolhida de um projeto original de 45.000m2, e tem só 20.000m2. Como a maioria das pessoas não tem muita idéia do que isso quer dizer, eu ajudo. Isso aqui é um centro de convenções de 20.000m2. (Aliás, quase vizinho do Aterro, na outra ponta do Centro, desmentindo o moço da ABIH-RJ que, na reportagem do Grobo, fala como se só houvesse o longínquo Riocentro.)

3) A concessão original tinha como objeto uma marina e como prazo 2006, prorrogável até 2016. Impediram a empresa que levou de reformar a marina, ampliaram o prazo pra 2036, e permitiram que o objeto virasse marina mais centro de convenções. Isso é como eu alugar área pra fazer um quiosque no metrô, e permitir que façam ao invés disso uma casa. E concessão com mais prazo é pra ser mais cara. Cadê o povo indignado com a corrupção política nessa hora?

4) Reparem na inversão “A REX, empresa que detém a concessão da Marina da Glória, esclarece que irá falar sobre o projeto de revitalização do espaço em breve, logo após finalização dos trâmites em andamento junto aos órgãos públicos”. Ora, esses trâmites (normalmente) incluem a publicidade das ações públicas (sem medo da tautologia). Decidir tudo entre quatro paredes e só anunciar pra choldra depois é o contrário de um processo público justo. 

5) São Gonçalo, a Manchester tropical, sempre à frente de seu tempo, já vendeu uma praça pra fazerem shopping. Como é no subúrbio, não deu notícia.

6) O problema de centro de convenções não é só o prédio em si, mas todo o movimento de carro e gente, além da área que é subtraída ao parque. E esse problema continua existindo quando, como hoje, a Marina é usada como área de convenções. O SanglierX só multiplicaria. O ideal, pra mim, seria redesenhar a concessão da Marina para o necessário à manutenção dos barcos, talvez um par de quiosques-restaurante, e liberar a moita. Sem convenções nem show nem mundo mix nem nada. Mas nem a discussão sobre o projeto é possível, porque Eike não liberou os dados. Qual a quantidade de carros e veículos utilitários estimada por dia quando não tiver convenção? E quando tiver?

7) Esse espaço do shopping e centro de convenções seria isolado do aterro por grades e seguranças? Porque se for, é um Burle Marx de Fancaria bizarramente situado no meio do original. Como se o "mercado praça XV" do Barra Shopping se erguesse, incólume, imenso, e inacessível salvo por uma porta ou duas, no meio da Praça XV.
PS: já que vai fechar o parque que do outro lado tem a Porcão, sugiro pra nome "Sanglierx." Tem o X da sorte e um cachet de primeiro mundo europeu, que vai ajudar na revitalização sustentável da área.

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