Enquanto o debate político brasileiro é dominado pela surpreendente revelação de que Sarney é corrupto (só depois de 2003; antes não há o que se olhar), umas coisinhas de somenos importância passam batidas.
Tipo, por exemplo, a tentativa do maior e mais poderoso partido político brasileiro de facto, a bancada ruralista, de acabar de vez com a reforma agrária.
Miudezas.
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A "revitalização" da zona portuária carioca é anunciada faz um quarto de século. Tenho em casa, inclusive, o dossiê criado pelo Instituto Pereira Passos para uma exposição de 1999. Pelosvisto agora pode ser que saia alguma coisa, haja visto o interesse de Dudinha Paes em lucrar com a especulação imobiliária.
O interessante é que a maioria dos projetos de "revitalização" do mundo consiste na verdade de projetos de "gentrificação." Em alguns deles a intensidade de uso do local, definida como uma função da densidade populacional, do quantum de trocas comerciais feitas, e da quantidade de visitantes diários, diminui ao invés de aumentar, e só quem lucra é a especulação imobiliária.
No caso do Rio, logo o Rio tão afeto à exclusão social (que o diga César Maia, que achou por bem fazer uma sala de concertos na Barra da Tijuca), o curioso é que essa lógica pode não acontecer. Isso porque a zona portuária não é simplesmente uma zona empobrecida; é uma zona abandonada mesmo. Os armazéns que uma vez serviram para carga geral não servem mais para as operações portuárias de hoje em dia, e ocupam a maior parte da área; hoje, a maioria é usada por escolas de samba para montagem de carros alegóricos. E o projeto tem surpreendentemente poucas intervenções negativas na área onde moram as pessoas, e surpreendentemente muita preocupação com moradia social.
Algumas coisas relativamente baratas e muito importantes faltam nele, na minha modesta opinião: uma atitude responsável para com a arquitetura. E fazer uma segunda cidade do samba, ou uma expansão da atual, para abrigar as escolas de samba que não conseguiram ir para a atual. Ah sim, e sepultar de vez a idéia de usar os cais da Gamboa e do Santo Cristo para movimentar cargas, e fazer do gasômetro (que está sendo desativado) um aquário público.
E uma coisa ele tem em comum com os projetos acima aludidos: o gasto público. A prefeitura garante que o dinheiro que ela vai gastar virá da cobrança de permissões de construir, mas as maiores obras previstas - novos píeres de passageiros no cais e um túnel substituindo a Perimetral´do aterro até o Moinho Fluminense - serão feitas com recursos da União. Por outro lado, é uma área bastante grande, e já com toda a infraestrutura de transporte e saneamento no lugar (e até superdimensionada). Para desenvolver uma área equivalente "virgem," se gastaria mais do que vai se gastar pra enterrar a Perimetral.
Um comentário:
Cheguei num estágio da vida em que a preocupação é saber se estarei vivo para ver.
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