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28.8.09

Wishful thinking

da Preta Gil, na capa da Marie Claire:

"Preta Gil enfim conhece o sucesso."


da prefeitura de São Paulo

"Menos da metade dos usuários de ônibus fretados paulistas passou a utilizar metrô ou trens da CPTM, ao contrário do que havia previsto a Secretaria Municipal dos Transportes antes de implementar a restrição. "


do governo de São Paulo

"Avelleda afirma, porém, que essa reavaliação não está relacionada à recente publicação do projeto do trem-bala Rio-São Paulo. Segundo ele, há a garantia de que não serão vendidas viagens entre São Paulo - com saída na estação do Campo de Marte -, e o aeroporto de Guarulhos. "O trem-bala não vai fazer viagens de São Paulo a Guarulhos.

Assim o projeto é complementar e não concorrencial. A parada em Guarulhos é de quem vem de Campinas ou do Rio de Janeiro", diz ele. Fontes da iniciativa privada que acompanham o projeto federal dizem desconhecer a existência de um acordo nesse sentido." (O trecho Guarulhos-São Paulo seria o mais lucrativo, e o segundo de maior faturamento, de um eventual trem-bala.)

20.8.09

Toro toro toro - marítimas II

Quando amigos meus do Rio vêm pra São Paulo, quase sempre falam em "comer sushi na Liberdade." E eu tenho que explicar pra eles que não tem sushi bom e barato na Liberdade, ou melhor, que não há relação nenhuma entre sushi e a Liberdade, pra mal ou pra bem. (Na verdade existe um excelente sushi no bairro, o Yassu.) Isso porque, quando os imigrantes japoneses vieram pra cá, não existia sushi como conhecemos hoje. O que era chamado de sushi à época era um peixe fermentado junto com arroz, mais ou menos similar ao surströmming sueco, feito com peixes de segunda que assim eram preservados por mais tempo. Longe da idéia de asseio que se tem quando pensa em sushi hoje em dia, o sushi era conhecido pelo fedor. O Akutagawa Ryunosuke, dos primeiros grandes escritores "à ocidental" japoneses, adorava, mas sacaneia o sushi de então o tempo todo - numa passagem narra como um cego sabia que estava chegando à cidade pelo cheiro das barraquinhas de sushi em torno do portão, proibidas de circular dentro da cidade; em outra, compara o cheiro ao de um rato morto.

O sushi como no-lo conhecemos, em que o principal ingrediente posto em cima ou dentro do arroz é o peixe cru, obviamente, depende da invenção da geladeira, e ficou realmente popular no Japão ao longo dos anos 20. E com essa popularidade, especialmente depois que o Japão ficou rico no pós-guerra, alguns peixes que antes eram completamente ignorados pelos pescadores japoneses viraram vedetes culinárias. O principal deles foi o atum azul - que já era pescado no Mediterrâneo desde a antiguidade, mas não era considerado peixe que se apresentasse pelos japoneses. Aliás, nem no Mediterrâneo - ele era salgado ou defumado pra ser vendido como proteína barata, como o bacalhau no Mar do Norte.

O atum de sushi não é o mesmo peixe que o atum enlatado; são espécies inteiramente diferentes. O atum enlatado enquanto nada se chama cavala, e é bastante abundante mundo afora. O atum propriamente dito, azul ou amarelo, também é extremamente comum - o problema é que, depois que inventaram o sashimi, a pesca dele ficou um tiquito demais. Quanto demais? Mais de três milhões e meio de toneladas de atum pescado demais. Pra por isso em perspectiva, isso quer dizer que tiram do mar atum o suficiente pra soterrar uma cidade do tamanho de Campinas. Todo ano. E aí, bem, o bichinho* tá em extinção.

Foram feitas várias tentativas, pelos diversos Estados em cujas águas se encontra atum e pelas organizações internacionais, de se controlar a pesca do atum, especialmente a do atum azul austral, o mais ameaçado. Todas elas foram ignoradas pela pesca industrial (pisconegócio?), seja na cara dura e através de suborno, seja através de maneiras criativas, como no mediterrâneo, em que atuns juvenis são capturados e engordados até chegarem ao tamanho mínimo para o abate. Fala-se dos pobres marinheiros capturados pelos piratas somalis, mas boa parte desses marinheiros estavam na Somália justamente porque, faltando Estado, lá podiam capturar atum impunemente. Pirataria também, de certa forma.

Hoje, o equipamento das frotas atuneiras está bem longe dos labirintos da Sicília etrusca. São navios de 200m de comprimento com fábricas internas e frotas de aviões com equipamento sensor para idenfiticar os cardumes. Faz sentido, já que um atum pode rodar até mil dólares o quilo no mercado de peixes de Tsukiji, em Tóquio. E, perversamente, quanto mais o peixe vai chegando perto da extinção, mais fica caro e vai aumentando o incentivo para pescá-lo a qualqur custo. Um dia, vai chegar ao ponto do bacalhau, que já foi o peixe mais abundante do mundo e hoje custa, por baixo, cem reais o quilo. (Do bacalhau verdadeiro, Gadus morua, chamado de bacalhau porto no Brasil. Os outros bichos vendidos como bacalhau no Brasil são de outras espécies.)

Duas notinhas pra chamar pro Brasil esse lamento de alguém que continua comendo maguro e se sentindo culpado por isso:

1. O governo criou uma secretaria, agora ministério, para incentivar a pesca. Inda se fosse a aquicultura...porque as águas brasileiras, pobres em pescado à exceção dos extremos sul e norte, já são sobrepescadas. É como se criassem um ministério da lenha pra incentivar o desmatamento.

2. A marinha, tão preocupada com hipotéticos e inúteis submarinos nucleares, não tem meios de impedir que três quartos da pesca em águas profundas no litoral brasileiro sejam praticados, ilegalmente, por barcos estrangeiros. Custaria, para adquirir esses meios, mais ou menos o preço de um dos quatro submarinos convencionais comprados da França.




*O "bichinho" na verdade é um monstro que pesa até meia tonelada e consegue passar dos 70Km/h, ou ficar meses a fio nadando a 40Km/h. Pense nisso da próxima vez que enfiar um sashimi na boca.

18.8.09

Marítimas

Depois de alegar que um submarino de setenta metros não cabe num dique de 200, agora a Marinha diz, pra defender a decisão do Nelson Jobim, que

Quanto ao aspecto apresentado como curioso, de a França não empregar o Scorpène, de fato, não só a França, mas nenhum dos países ocidentais que operam submarinos de propulsão nuclear, como os Estados Unidos, o Reino Unido, a própria França e a Rússia, empregam submarinos convencionais. Apenas a China opera ambos os tipos de submarinos.

Mais uma vez, a afirmativa passa do campo da discussão pro da ópera bufa. Bisoiando na internet, em cinco minutos se descobre que a Rússia opera 18 submarinos convencionais da classe Kilo e está preparando outra classe convencional.

Vamos deixar de lado a China, já mencionada por eles e que pode-se dizer que opera submarinos convencionais porque são mais baratos. A Rússia, mesmo enquanto potência mundial, continuou se dedicando a fazer submarinos convencionais, ao contrário dos membros ocidentais do clube dos cinco. Por que isso? Ou, melhor dizendo, por que os outros só usam submarinos nucleares? Afinal, ao contrário do Brasil, alguma estratégia militar eles têm pra justificar isso, e não só "urrú, vou compensar o tamanho minúsculo do meu pênis."

Submarinos têm quatro usos possíveis. Dois podem ser cumpridos por submarinos diesel-elétricos melhor do que por um nuclear, um pode ser cumprido melhor por um nuclear, e um exclusivamente por submarinos nucleares. São eles, pela ordem acima: atacar navios mercantes, atacar navios de superfície inimigos, caçar submarinos de mísseis balísticos, e carregar mísseis balísticos.

Isso porque submarinos convencionais podem desligar o gerador diesel e usar só a bateria para operar, e assim são - além de mais baratos - muito mais silenciosos quando em estado de alerta. Um submarino nuclear não pode desligar o reator, senão explode. Mas o submarino balístico, que tem que ficar literalmente meses a fio submerso, pra ser perdido pelos inimigos até quanto ao oceano em que está, tem que ser nuclear. E pra caçar um submarino nuclear, você precisa de outro, até porque um submarino nuclear consegue correr bem mais rápido do que um convencional.

Resumindo, como eu já disse no último post sobre isso: a única coisa que faz com que um submarino nuclear seja uma boa idéia é para uma guerra nuclear.

No caso dos EUA, com um orçamento militar do tamanho do PIB da Argentina e com dúzias de submarinos balísticos/caça-balísticos, simplesmente ficou mais fácil usar os submarinos caça-balísticos também pros primeiros dois papéis. Aliás, a superoferta de grana deles é tão grande que até usando caríssimos submarinos balísticos como baterias de tomahawks eles tão - um papel que qualquer bote com meia dúzia de tubos em cima poderia desempenhar.

No caso da dobradinha Marianne-Britannia, pode-se ver que os submarinos deles são todos dedicados ao fim do mundo da guerra nuclear. Não servem pra o que seria a função de um submarino brasileiro, a defesa ou ataque costeiros. Por isso que eles só têm os nucleares. Enquanto isso, a Rússia prevê defesa costeira e ataque ao comércio estrangeiro com submarinos - ergo, possui e desenvolve submarinos convencionais.

Claro que tudo isso é acadêmico, já que nada do que a Marinha está comprando tem serventia prática, assim como não a têm os Rafales que a Força Aérea quer comprar. Enquanto isso, o Brasil continua sem ter os navios-patrulha e radares necessários para vigiar direito a costa contra pescadores ilegais, navios mercantes que soltam óleo, o tráfico e contrabando ribeirinhos na Amazônia, e outras coisas realmente úteis para a sociedade. Porque isso não rende tanta grana sem licitação, nem compensa o micropênis.

Enfim, nada que mude a história das gloriosas forças armadas brasileiras.



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Só eu que sou burro? Porque um catamarã rápido, do tipo que é usado em pencas de lugares mundo afora, carregando carros e passageiros, faria o serviço centro do Rio - Angra em duas horas (parada na Barra da Tijuca nos primeiros 20 minutos), e Santos-Ubatuba em duas horas e meia (parada em Ilhabela aos 105 minutos). Enquanto isso, as classes média e alta paulistana e carioca se apinham em engarrafamentos de mais de quatro horas (Rio-Angra) ou até dez horas (SP-Ubatuba).

Acho que mesmo só Santos Dumont-Barra da Tijuca em 25 minutos, com um menos rápirdo, ia fazer sucesso. Ou dois pontos na Barra; um no Jardim Oceânico aos vinte e cinco minutos e outro no Recreio aos quarenta e cinco. Quem vai, hoje em dia, do Recreio ao Centro em três quartos de hora?

5.8.09

Escalas

Enquanto o debate político brasileiro é dominado pela surpreendente revelação de que Sarney é corrupto (só depois de 2003; antes não há o que se olhar), umas coisinhas de somenos importância passam batidas.

Tipo, por exemplo, a tentativa do maior e mais poderoso partido político brasileiro de facto, a bancada ruralista, de acabar de vez com a reforma agrária.

Miudezas.


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A "revitalização" da zona portuária carioca é anunciada faz um quarto de século. Tenho em casa, inclusive, o dossiê criado pelo Instituto Pereira Passos para uma exposição de 1999. Pelosvisto agora pode ser que saia alguma coisa, haja visto o interesse de Dudinha Paes em lucrar com a especulação imobiliária.

O interessante é que a maioria dos projetos de "revitalização" do mundo consiste na verdade de projetos de "gentrificação." Em alguns deles a intensidade de uso do local, definida como uma função da densidade populacional, do quantum de trocas comerciais feitas, e da quantidade de visitantes diários, diminui ao invés de aumentar, e só quem lucra é a especulação imobiliária.

No caso do Rio, logo o Rio tão afeto à exclusão social (que o diga César Maia, que achou por bem fazer uma sala de concertos na Barra da Tijuca), o curioso é que essa lógica pode não acontecer. Isso porque a zona portuária não é simplesmente uma zona empobrecida; é uma zona abandonada mesmo. Os armazéns que uma vez serviram para carga geral não servem mais para as operações portuárias de hoje em dia, e ocupam a maior parte da área; hoje, a maioria é usada por escolas de samba para montagem de carros alegóricos. E o projeto tem surpreendentemente poucas intervenções negativas na área onde moram as pessoas, e surpreendentemente muita preocupação com moradia social.

Algumas coisas relativamente baratas e muito importantes faltam nele, na minha modesta opinião: uma atitude responsável para com a arquitetura. E fazer uma segunda cidade do samba, ou uma expansão da atual, para abrigar as escolas de samba que não conseguiram ir para a atual. Ah sim, e sepultar de vez a idéia de usar os cais da Gamboa e do Santo Cristo para movimentar cargas, e fazer do gasômetro (que está sendo desativado) um aquário público.

E uma coisa ele tem em comum com os projetos acima aludidos: o gasto público. A prefeitura garante que o dinheiro que ela vai gastar virá da cobrança de permissões de construir, mas as maiores obras previstas - novos píeres de passageiros no cais e um túnel substituindo a Perimetral´do aterro até o Moinho Fluminense - serão feitas com recursos da União. Por outro lado, é uma área bastante grande, e já com toda a infraestrutura de transporte e saneamento no lugar (e até superdimensionada). Para desenvolver uma área equivalente "virgem," se gastaria mais do que vai se gastar pra enterrar a Perimetral.