Comentário: "Quem dera aqui no Brasil também se fizesse iniciativas como essa, mas não as veremos nunca!"
Eu: "Ahn, tem. Só que é seis vezes. Do Minha Casa Minha Vida."
"Fonte?"
"Fonte"
"Ah, mas a Dilma vetou prioridade a renováveis. Infelizmente o Brasil vai continuar sem investir em energias renováveis."
"A) Isso é outro assunto, B) o Brasil é o país que mais cresce em energia eólica do mundo."
"Quem dera os conjuntos do Minha Casa Minha Vida tivessem o capricho e a beleza desse condomínio alemão. Odeio falar mal do Brasil, MAS..."
Só pra esclarecer: o condomínio alemão é um condomínio de luxo, com preço de venda entre 2700 e 3300 euros por metro quadrado, ou aluguel em torno de 11 euros o metro quadrado, no limite superior dos preços em Friburgo. Um tico mais do que os preços do Minha Casa Minha Vida.
A outra ocasião:
"Uruguai promulga lei do software livre."
"Quem dera o Brasil seguisse o exemplo, ao invés de continuar enchendo os cofres da Micro$oft."
(O Uruguai se inspirou no, e teve ajuda do, Brasil na questão.)
Ainda outra, esta ontem:
"Peru vai isentar livros de impostos por três anos. Aquele momento em que você tem inveja do Peru."
"No Brasil já é isento desde o tempo do Sarney. Tá na constituição federal, inclusive."
"Achei este artigo de tributarista que fala que o livro no Brasil paga imposto sim, porque as editoras e seus donos pagam imposto de renda, Cofins, e PIS."
"Ahn, no Peru não isentaram editores de pagar impostos e contribuições trabalhistas. Só o livro."
Ainda noutra ocasião, há tempos atrás, comentei que o Brasil tinha reduzido o desmatamento neste século (pruma pessoa que lamentava que enquanto a Venezuela se preocupava com ecologia, o Brasil só desmatava cada vez mais), e a resposta foi um texto indignado dizendo que eu me informava em sites neoliberais ao invés de no imazon.
Aqui o gráfico do desmatamento na Amazônia segundo o Imazon:
(Peguei link direto, aliás. Pode olhar a fonte da imagem.)
Só pra deixar claro, a Venezuela no mesmo período
De novo: o Brasil tem problemas sérios, e enormes. O desmatamento na Amazônia parou de cair, e quatro a cinco mil quilômetros por ano é coisa pra burro - e a Amazônia ainda é o bioma menos degradado. Militantes pelo meio ambiente, pelos sem terra ou pelos índios são assassinados literalmente às centenas. E o governo pretende mesmo fazer as fantasias gernsbackianas na selva que são o complexo hidrelétrico do Tapajós. Numa nota menor, a área plantada com orgânicos recuou, e o consumo de agrotóxicos aumentou (e já era enorme).
Mas uma lenda negra do próprio país não é uma forma de denunciar e melhorar esse país. É só uma forma de autoconforto na convição fatalista duma merda absoluta. O Brasil também tem - e isso não é benesse de governo, mas conquista coletiva - bastante coisa boa acontecendo. É o país que mais diminuiu emissões de gases de efeito estufa no mundo, e isso porque já emitia pouco em comparação com o PIB; o saneamento continua vergonhoso, mas cresceu mais na última década que no século anterior; o país é, repetindo, aquele no qual a energia eólica mais cresceu no mundo nos últimos anos, e deve continuar a ser nos próximos; em 2014 o crescimento foi de 122%.
Custa não cair nem no ufanismo raso nem no seu oposto, pelo visto. Viramos torcida do circo romano, pronta pro vaticínio total sobre a essência de algo, ao invés de gente tentando ver o que acontece.
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