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18.11.15

El Mayor del Mundo 2 - São Paulo Capital Mundial da Gastronomia

A idéia desta série é conferir as alegações recorrentes de que tal ou qual coisa é "a maior do mundo," que fazem com que os vizinhos do Brasil no continente riam muito do "país do más grande del mundo." As alegações são repetidas não só pelas pessoas, mas pela imprensa e pelos órgãos oficiais, sem nunca serem conferidas. Às vezes, por modéstia, se adiciona uma qualificação, temporal ou regional, virando o maior da América Latina, o maior do mundo à sua época, ou quevalhas. Para o número 2, algo que vejo volta e meia pipocar nos jornais da minha cidade de adoção:



São Paulo Capital Mundial da Gastronomia



Bem, primeiro: quem deu esse título a SP não foi alguma publicação ou concurso internacional, mas o próprio escritório de promoção de turismo do município. Não é exatamente uma fonte isenta... mas a pergunta, claro, é se o título se sustentaria de alguma forma, não importando que tenha sido autoconcedido. Então pra isso, acho, valeria tentar definir o que se entende por uma "capital gastronômica."

Se for pela quantidade de restaurantes de primeira linha, de elite, considerados dentre os melhores do mundo pelos gastrônomos, então... não. Assim, não apenas não, mas nem de longe. O guia Michelin diz que São Paulo tem uma dezena de restaurantes de uma estrela e um único (o DOM) de duas estrelas - o Rio tem cinco de uma estrela. Kobe, subúrbio de Osaca, tem mais estrelas Michelin. Paris tem quase uma centena. Tóquio tem 218 no total. É até fácil de entender isso: alta gastronomia depende de dinheiro, uma relação próxima da cultura nacional com comida, e ingredientes de qualidade. São Paulo até tem bastante dinheiro, mas muito pouco se comparada com as grandes cidades dos países ricos - Tóquio, em particular, tem um PIB comparável ao do Brasil inteiro, e Nova Iorque não fica muito atrás. Quanto à relação próxima da cultura local, qualquer visita à maioria dos restaurantes populares, ou mesmo mais sofisticados, na cidade vai ver é a repetição ad infinitum dos mesmos pratos, com os mesmos (e poucos) temperos. No Brasil metropolitano, se come arroz, feijão, e a proteína do dia, às quartas e sábados uma feijoada sem as carnes "esquisitas." E a maioria das pessoas acha qualquer coisa que fuja muito dessa toada esquisito, e esquisito é sinônimo de ruim.

Se for pela gastronomia de rua, se pode dizer a mesma coisa. No caso, o dinheiro é menos importante, mas a variedade de imigrantes de diferentes culturas pesa. E, de novo, se São Paulo nesse quesito se destaca no Brasil, quando comparada mesmo com uma cidade média de um dos países centrais, atratores de imigrantes, ou com uma cidade na África e na Ásia, com culturas diferentes vivendo mais ombro a ombro, perde feio. Há restaurantes libaneses excelentes, sem sombra de dúvida, e pizza idem. Mas também há coisas excelentes mundo afora, e a comida popular básica é aquele trio sem graça, hiper salgado e hipotemperado. Feijão, arroz, proteína animal. (O carioca que ainda sou se sente tentado a adicionar "e nem é o feijão certo," mas vou me conter.)

Conclusão: São Paulo poderia ser chamada, provavelmente sem isso ser muita bravata, de capital brasileira da gastronomia. Para almejar um título mundial parecido, ainda tem que comer - ou deixar de comer - muito feijão com arroz.

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