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26.6.15

Cronologia do casamento gay na América

Pessoas de orientações sexuais diferentes podem se casar em qualquer rincão dos EUA, país mais populoso das Américas, a partir de hoje. O fato é comemorado, com razão, nas redes sociais brazucas. O curioso é que já vi até gente que desconhece que, no segundo mais populoso país das Américas, o casamento gay (sou muito velho pra escrever LGBTTAP) já é realidade faz anos. Nem houve montagem de photoshop com Dilma ou Sérgio Cabral (que, ao contrário de Obama, tinham relação com a decisão das Cortes) soltando arco íris das mãos. Pra ajudar a preencher essa lacuna, aqui uma brevíssima cronologia de Obergefell vs. Hodges (o caso americano) e da ADPF 132 (o caso brasileiro).


1830 - Com a edição do Código Penal do 1º Império, a homossexualidade deixa de ser crime. 

1962 - Illinois é o primeiro estado a descriminalizar a homossexualidade.

2003 - No julgamento do caso Lawrence vs. Texas, a Suprema Corte descriminaliza a homossexualidade em todo o território nacional. 

5/3/2004 - Casamento gay é legalizado no Rio Grande do Sul, por decisão do tribunal de justiça.

17/5/2004 - Casamento gay é legalizado em Massachussetts, por decisão da corte suprema estadual.

27/2/2008 - Governo do Rio de Janeiro entra com a ADPF132, ação no STF pedindo a equiparação plena entre casais hetero e homoafetivos.

1/9/2009 - Vermont é o primeiro estado a legalizar o casamento gay por decisão do parlamento.

5/5/2011 - União civil estável é reconhecida para todo o Brasil, no julgamento pelo Supremo Tribunal Federal da ADPF132.

14/5/2013 - O conselho nacional de justiça esclarece que o julgamento da ADPF 132 significa casamento mesmo, e nenhum cartório pode se eximir de celebrar casamento gay.

19/7/2013 - O casal Obergefell entra com ação contra o estado de Ohio por não reconhecer seu casamento, realizado em Maryland.

26/6/2015 - A Corte Suprema dos Estados Unidos, no julgamento da ação Obergefell vs. Hodges, torna válido o casamento gay em todo o território nacional.

23.6.15

Lugares estranhos do mundo XIV - O império colonial suíço

Quem anda mundo afora, pode ver resquícios da colonização européia gravados nas pedras e no concreto, na arquitetura colonial que espelha a das metrópoles. Um dos maiores impérios coloniais, se espalhado aqui e ali, principalmente pelos lugares altos, parece ser, pelas casas, o suíço... 

Brasil, 1843. Petrópolis, a primeira capital planejada brasileira foi construída nas serras de onde se vê a antiga capital, o Rio de Janeiro. Era a "capital de verão," um lugar aonde se ia escapar dos surtos de doenças tropicais bem como do calor estafante. A historiografia tende a enfatizar o primeiro motivo, mas conhecendo as tolerâncias relativas do ser humano pra risco e pra desconforto, acho que os ternos de casimira inglesa e as criolinas foram pelo menos tão importantes quanto a febre amarela. Numa era em que não havia ar condicionado, nem a melhor arquitetura do mundo impedia que o verão no Rio de Janeiro fosse inviável para pessoas envoltas em camada após camada de tecido grosso, tecidos imaginados nas margens frias e húmidas do Canal da Mancha para vedar todo o corpo humano - pecaminoso - à vista alheia. É difícil exagerar o quanto os fatos e crinolinas vitorianos oprimiam o corpo, principalmente as segundas, e nem tô falando de uma constatação remota - já tinha poema zoando a monstruosidade na época. E se isso valia na frígida Gales, imagina no Rio Quarenta Graus.

O retiro nas montanhas, criado em boa parte pela necessidade de vestir os corpos com as modas de climas mais frios, buscou imitar também na sua própria "vestimenta," a arquitetura, e até nos trabalhadores importados, as montanhas européias. Assim começou a tradição brasileira da arquitetura conhecida como "enxaimel," ou se preferir um nome mais descritivo "imitação de casinha suíça." (Na própria Suíça, na mesma época, edifícios públicos eram construídos em estilo neoclássico francês.) Talvez não bem da Suíça, vejam bem, mas de algum lugar frio, rico, e pitoresco. As vigas de madeira vedadas com taipa de mão eram fakes claro, e os telhados angulosos nunca viram um cristal de neve sequer. No Brasil, além de Petrópolis, pode-se ver muito dessa arquitetura suíça em Campos do Jordão, esta já cosntruída para ser ocupada no inverno, em busca do friozinho "europeu" que não há em São Paulo. (E até São Paulo pode ter ganho a proeminência que ganhou, pelo menos em parte, porque em Campinas ou Santos é impossível usar a tar da caxemira inglesa.) Uma sucessão de setas apontando para o céu da identificação européia.

O Brasil, claro, não é o único país periférico a sonhar com os alpes; há lugares em que a imitação da Suíça encontra neve, nem que seja para polvilhar os telhados de vez em quando. Assim, um dos maiores impérios do mundo, no século XIX, era governado, seis meses por ano, das alturas do Himalaia (2500m, mais que o dobro de Petrópolis ou CdJ), em Shimla, capital de verão do Raj. Assim como na capital brasileira, a indiana, quase quarenta anos depois, não é só suíça; o orgulho pátrio (ou quase pátrio), lá como cá, determinou que o próprio palácio do governo fosse erguido no estilo "nativo" das respectivas metrópole e ex-metrópole. (Hoje, o palácio imperial de Petrópolis é um museu, o palácio vicereinal de Shimla um instituto de estudos avançados. ) Mas a Suíça está lá, seja na prefeitura




Ou no hotel




Se as cidades imperiais ornaram-se desses lederhosen arquitetônicos com alguma (não muita) parcimônia, imaginem aquelas que, como Campos do Jordão,



 são apenas resorts nas montanhas? Bariloche talvez seja o exemplo mais conhecido dos brasileiros,



 mas como ela há mundo afora. O Thomas More College, na África do Sul, é um exemplo


assim como esta casa em Sydney



Até em lugares que escaparam inteiramente à colonização européia, como Nikko, no Japão; a cidade, que é patrimônio da humanidade pelos túmulos dos Tokugawa (eles mesmos um exemplo de arquitetura imitativa - no caso, chinesante) 


, conta com uma estação de trem um pouco mais antiga, à inglesa,



 e uma mais nova que não faria feio em Joinville:


 Esta, aliás, é um exemplo de como o império colonial suíço desceu as montanhas; se em Petrópolis falta neve, em Joinville falta, pela maior parte do ano, sequer uma temperatura em que comer fondue não seja risco de vida. Mas os pontiagudos telhados enxaimel estão lá, ornando até edifícios. 


e em Blumenau, de novo a prefeitura



Aqui um mapa das altitudes no império colonial suíço: