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16.4.10

Salve o Almirante Negro

O primeiro navio lançado ao mar por um estaleiro brasileiro desde o Condoleezza Rice, ainda na década de 80, vai se chamar "João Cândido."

Vai ter milico enfartando.

(Eu ainda acho que um monumento legal, ao invés da estátua da praça quinze, seria arrumar algum cais - pode ser o do próprio porto do Rio ou o do Arsenal da Marinha, na Ilha das Cobras, e gravar em literalmente todas as pedras as palavras "João," "Cândido," "Almirante" e "Negro.")

15.4.10

Minas e energia

Em geral, a se julgar pela necessidade de cavar escândalos de cinco anos atrás evidenciada pela imprensa, o governo Lula parece ser menos corrupto stricto sensu do que seu antecessor. Lato sensu, também parece ser menos obediente aos grupos privados, apesar das agências reguladoras (todas, praticamente, inteiramente capturadas pelos interesses de seus regulados). A grande exceção a isso é no caso das grandes obras de infraestrutura.

Dois exemplos flagrantes, ambos na pauta esta semana por conta do ministério público de de protestos de ambientalistas, são a hidrelétrica de Belo Monte e o porto de Ilhéus (com ferrovia correspondente). Não que haja corrupção propriamente dita em nenhum dos dois (que se saiba), mas que ambos são projetos que só se justificam em nomes de interesses de grandes corporações, na melhor linha de pensamento "o que é bom para a GM é bom para os EUA."

Belo Monte, por exemplo, não é econômica. Vai gerar de energia firme, pouco mais de 4Gw - 30% mais do que uma das usinas do Madeira, a um custo 200% maior. E com o mesmo problema daquelas, que é a perda de quase metade da energia ao longo dos milhares de quilômetros separando elas do consumidor - ou seja, pode dobrar de novo esse custo, comparando com uma usina eólica no Ceará ou em Minas, ou uma termelétrica. Para que alguém ainda se interesse por construí-la, o governo teve que armar um pacote de bondades enorme que, na prática, significa que nós vamos pagar por essa energia, e a fundo perdido, e o consórcio construtor entra só com o lucro. Em termos ambientais, além da destruição de um ambiente único que é a Volta Grande do Xingu, tem que se levar em consideração, novamente, os linhões, e a migração que a mera notícia da usina já tem causado. Isso tudo sem nem levar em conta o caráter boi-de-piranha de Belo Monte, projetada para ser a última de uma cascata de hidrelétricas no Xingu.

Em Ilhéus, por outro lado, está se falando de construir um porto offshore enorme e caro, com ferrovia acompanhando, basicamente para atender aos interesses da Brasil Mineração. Que empresários privados façam isso, como o Eike Batista no seu porto de Açu, tudo bem (desde que não o façam, como no caso do Eike, desrespeitando a legislação ambiental e de portos, com vista grossa do INEA-RJ e da ANTAQ). E, como mostra o Eike, é um negócio que pode perfeitamente ter lucro com eles mesmos investindo. Por que diabos ao invés disso será o governo a arcar com os investimentos?

Isso tudo é o que me leva a pensar até em votar, no primeiro turno, na Marina Silva, apesar dela aparentar ter ficado maluca ("PV apóia Obama"??), ser criacionista e homofóbica. Só porque a tecla única em que ela bate parece ser justamente o lado em que mais seria necessário segurar a Dilma. Votar contra a Dilma no segundo turno, no Serra aliado da Kátia Abreu, sinceramente, ninguém que tenha o mínimo de preocupação com meio ambiente, índios, quilombolas, sem-terra, ou trabalhadores escravos pode fazer. Kátia Abreu é explicitamente contra a lista toda. Mesmo. Sério

7.4.10

Coisas que não entendo

Ambas desdobradas do post de ontem.

1 - Por que se diz tanto que "no Brasil não tem desastre natural." As chuvas que caíram no Rio desde domingo são comparáveis às que caem durante um furacão.

2 - Por que o soberano do Japão é chamado, nas línguas ocidentais, de imperador. Imperador, desde que Carlos Magno cunhou a palavra a partir do imperator romano (que era só mais um das dúzias de títulos republicanos empilhados nos imperadores, já que oficialmente o império romano continuava a ser uma república), tem um pressuposto ou de universalidade (ecumenicidade, diria o Toynbee), isso é, de domínio teórico e legítimo de todo o globo (como, em mongol, Gêngis Cã, "soberano oceânico") ou de suzeranidade sobre outros reis independentes (é o shahanshah, rei dos reis persa). Um terceiro significado surgiu com os "impérios coloniais" europeus (inclusive, com o caso bizarro de impérios pertencentes a repúblicas), mas, curiosamente, esse significado não se extendia ao soberano, de modo que a rainha Vitória era soberana de um império. (E imperadora apenas na Índia, não na Grã-Bretanha.)

Ora, o Japão não se encaixa em nenhuma das categorias acima. O soberano japonês não se sobrepunha a outros soberanos, nunca se pretendeu soberano com direito legítimo ao globo, nem teve, antes do período entreguerras, império ultramarino. Nem tem algum sentido de venerabilidade, como os imperadores etíopes de linhagem salomônica. Então por que diabos fala-se em imperador do Japão e (por exemplo) rei da Tailândia, que são países equivalentes em quase todos os sentidos? É por conta da revolução Meiji? Não, porque já se falava em imperador japonês antes dela. Tradução do chinês? Não, o tenno é chamado em chinês de wang nihon, "rei do Japão." Então, por que?

6.4.10

Só pra constar

Ontem, no Rio, choveram 283mm. A previsão para hoje é de pelo menos mais 140.

Durante o mês de janeiro inteiro, em que as "fortes chuvas" eram culpadas pelas enchentes em Sampa, choveram 478mm por aqui.

Imagina se caísse essa água em dois ou três dias, ao invés de um mês. Iam ter que afogar muita favela.



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Eduardo Paes admitiu que a prefeitura do Rio não está preparada para as chuvas. Deu pra ver, né? E aproveitou para falar de remoção de favelas. Parece disco riscado, ou o Cheney achando que tudo era motivo pra furar petróleo no Alasca.

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"Serra invoca imperador romano e diz que a sorte está lançada" é a manchete da Folha. Tudo bem que ele é aliado do César (Maia), mas seria melhor citar o Popol Vuh do que o momento em que César (Caio Júlio) decidiu cometer um golpe militar. OK, OK, acho que ninguém mais vai reparar.