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29.11.07

Capitão Nascimento no Ibama

Tá, desculpas pelo título, que não tem nada a ver nem com tortura nem com o Brasil. Mas é que uma das maiores preocupações de muitos agentes ambientais mundo afora é matar bichos. São as espécies invasoras, animais que, introduzidos em ecossistemas aos quais eles estão muito melhor adaptados do que os nativos, matam direta ou indiretamente estes. Vão desde os simpáticos e psicopatas micos-estrela de Pernambuco, que estão acabando com a avifauna do Sudeste, até os porcos que ameaçam os ecossistemas das ilhas do Pacífico Sul.

E, claro, os mais hardcore de todos, os ratos. Em tudo que é canto, acabando com todo mundo. Mas agora os humanos resolveram empreender um bombardeio aéreo contra eles. (A localização, que é deserta mesmo de outros bichos, ajuda.)

24.11.07

Condor do povo

As polícias da América Latina se reuniram na Colômbia para "coordenar seus esforços contra o narcotráfico e o crime organizado. Considerando-se o prontuário dessas polícias, que mantiveram, após as ditaduras, a repressão às áreas populares e a tortura como práticas correntes de sua "guerra," (como explicado por um deles no último ataque à noção de direitos humanos), acho que não chega a ser muuuuuita hipérbole chamar isso de Operação Condor II - A Revanche Final Está de Volta. O bizarro é que ela possa acontecer em meio a uma situação de governos democráticos em quase todo o continente, muitos deles nas mãos de partidos de esquerda, que têm histórico de oposição à tortura e dos quais muitos integrantes sofreram na carne a violência policial. Lembra, de certa forma, o distante aviso do general-presidente Eisenhower sobre a formação de uma autoridade paralela nas mãos do complexo industrial-militar. E torna a "democracia" latino-americana algo bastante relativo e contingencial. Eu vivo numa democracia, mais ou menos; um habitante do Capão Redondo ou da Maré não vive em nada que se assemelhe a uma, mas numa ditadura mais ou menos racial-fascista.

23.11.07

A voz rouca das ruas

O PSDB, em seu Congresso anual (como relatado pelo Valor), diz que vai "convocar as ruas contra o 3º mandato."

Não sei o que é mais engraçado, se a idéia de manifestações contra algo que ninguém diz que quer, ou se a idéia do PSDB (que tem alergia a povo) "convocando as ruas." Passeata dos cansados de novo?

Aliás, a cobertura do encontro pelo Valor - que entre outras coisas compara as teses apresentadas neste congresso com as de 1989 - junto com o editorial ironizando os arroubos democráticos do DEMo, prova mais uma vez que os dois jornais de porte mais "à esquerda" do Brasil são ele e o Jornal do Commercio. Bizarro.

20.11.07

Podia ser pior

A situação no Peru e Colômbia, pelo visto, tá tão ruim que o Brasil começou a virar abrigo de refugiados, apesar das regras draconianas e racistas de imigração, impostas ainda sob o Getúlio.

Sempre é bom lembrar, lendo uma notícia dessas, que a floresta hiper-úmida do alto Amazonas, a maior parte da qual fica na Colômbia e no Peru, é bem mais densa e diversa, tanto em termos humanos quanto de ecossistemas, do que o resto da Amazônia.

19.11.07

Imoral e imbecil

Muita gente tem denunciado o entusiasmo pela polícia que mata, à Tropa de Elite, como imoral, e têm toda a razão. Mas, como no caso das mega-hidrelétricas que querem fazer por aí, confesso que gostaria de ver mais oposição absolutamente amoral, baseada na absoluta ineficiência - ou, no caso, inutilidade - da estratégia em questão.

Uma polícia que tenha como missão "invadir favela e deixar corpo no chão," como reza a música do BOPE, não é polícia. A missão de uma polícia é manter os estatutos legais. Até aí, apesar de tegiversar, até os apoiadores do BOPE concordam. Estamos numa "guerra," afinal, segundo eles. A questão é que ter como missão atingir o maior número e status de mortos possíveis não é sequer uma estratégia de guerra inteligente. É pensamento de sargento, não de general. A noção da guerra de atrito não se aplica a conflitos de baixa intensidade; por maior que seja a mortandade praticada pelo BOPE, sem o uso de bombardeio indiscriminado ela nunca vai se equivaler ao crescimento populacional das favelas (e, pela dinâmica do tráfico, esse crescimento é o único limite para a substituição de "soldados").

Claro que a compreensão do que é praticado como uma guerra de atrito retorna, também, à questão moral. Afinal, se o Brasil está empreendendo uma guerra de atrito contra as favelas...

9.11.07

Globalização democrática

Uma pesquisa de opinião do Pew mostra que a maioria das pessoas aprova a atual situação mundial, em que o capital está livre para se deslocar pelo mundo, os bens, quase livres, e as pessoas nem um pouco. Bom para os governos e as empresas multinacionais, ruim pra todo mundo. E pensar que até o começo do século XX, nem de passaporte se precisava pra viajar.